Arquivo para julho \30\+00:00 2010

Mautner/Jacobina em Chapecó – Todo Errado

Tinha a incumbência, como um dos idealizadores do projeto Unocultural, apresentar o show do Jorge Mautner e confesso que fiquei um tempo pensando qual seria a melhor forma. É difícil definir quem é Jorge Mautner, porque ele é escritor, poeta, filósofo, mas também é músico, cineasta, ator, político e por aí vai. Resolvi perguntar a ele qual seria a melhor forma e ele disse: me apresenta como o camarada Mautner. Dei risada porque como ele mesmo diz a essência do que ele faz esta em todas as manifestações artísticas possíveis. É o amálgama que une e aproxima todas as coisas e nesse sentido não importa o meio o que importa é o que você diz e como você se posiciona. Mautner diz as mesmas coisas só que de formas diferentes explorando tudo o que um artista pode ter. O que me impressiona é que seja na musica poesia ou literatura etc, ele é extremamente irônico, debochado e político, achei que valia a brincadeira e apresentei ele a partir de um dos seus grandes e mais recente sucesso: É ele, neurótico, psicótico, todo errado com vocês Jorge Mautner e Nelson Jacobina. No show ele explica a origem da música e que vem dos tempos de criança, o pai dele dizia: meu filho não importa o que você faça você estará sempre errado. Certo ou errado Mautner acaba sempre relegado a um segundo plano porque é difícil entender a sua linha de raciocínio extremamente complexa. E a mídia não faz questão de tentar entender e o publico não se esforça para buscar informação e procura somente coisa prontas e fáceis de serem digeridas.  E apesar do apelo pop que a obra do Mautner tem, e de falar de coisas simples, ela não é tão simples. Quando nos deparamos com a obra escrita dele ficamos perplexos pela forma visionária com que ele relaciona tudo de forma única. Seus livros e sua essência de raciocínio e consciência estão anos luz a frente do universo. Essa falta de sincronia é o que gera toda genialidade do trabalho dele e consequentemente uma falta de compreensão da sua obra. Posso afirmar que poucas vezes pude compartilhar de alguns momentos e poder trocar idéias com alguém tão espetacular. E a essência disso tudo é que ele é uma criatura maravilhosa tão complexa e contundente nos seus textos, musica e postura política, mas extremamente simples no cotidiano e ao lidar com as pessoas ao seu redor. Fiz uma entrevista/bate papo (Juntamente com o Rodrigo Garras editor do site www.osarmenios.com.br) no programa 4Queijos (que passa no canal 15 da Unowebtv, mas que em breve você poderá conferir www.unochapeco.edu.br/unowebtv ) e confesso que fiquei assustado quando ele começou a falar. Porque aquela criatura de fala mansa e olhar singelo se transforma num monstro quando defende o que faz ou pontua suas convicções artísticas, sociais e políticas. Percebam que relaciono a palavra política o tempo todo. E isso é porque ele faz questão de enfatizar. “Uma das coisas que me move é a política.” Em seu mais recente livro O filho do holocausto”. ele explica um pouco da sua trajetória e o porque desse engajamento que acabou lhe rendendo o título de maldito, sendo censurado inúmeras vez e inclusive convidado a se retirar do país no período da ditadura. Juntando um coisa aqui e outra ali fui percebendo que tudo aquilo, aquela quantidade enorme de referencias e leituras pertencia a um mesmo universo intenso e cósmico, espetacular e tudo mais que você deseja relacionar e que ele chama de amálgama. Relaxei e deixei fluir transformando aquilo que seria uma entrevista, numa conversa onde na maior parte do tempo ficamos curtindo o momento apenas ouvindo o que este cidadão que já esteve ao lado dos grandes nomes da nossa cultura brasileira (poderia aqui listar nomes, mas vou deixar esse exercício para você que esta lendo o texto. Pense num nome. E pode ter certeza que Mautner já esteve ao seu lado) tinha pra dizer e que naquele momento. Mautner estava ali, ao meu lado, compartilhando milésimos de segundos da sua genialidade e paciência pertencente aos sábios.

O show não poderia deixar de ser surpreendente, já o tinha visto em ação pela televisão. Ao vivo foi a primeira vez. E mesmo conhecendo o trabalho de Mautner e Jacobina ao vivo tudo aquilo adquire uma outra conotação. Cerca de 400 pessoas estiveram presentes para ouvir suas histórias e cantar os grandes sucessos que na maioria das vezes ficaram conhecidos na voz de outras pessoas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Zé Ramalho, Fagner, Chico Science só para citar alguns. A lista é grande. O público presente se deliciou e terminou autografando discos e livros. Mautner fez questão de conversar e autografar e tirar fotos com todo mundo depois do show. A verdade é que Mautner ao vivo é algo sem explicação, difícil de ser descrito, tem que ver o show, tem que sentir, o clima é mágico e a estrela dele brilha ao lado do seu fiel escudeiro Nelson Jacobina. Um caso a parte. E que vale um parágrafo a parte.

O parágrafo a parte é sobre Jacobina. Criatura sensacional e que sempre esteve ao lado de Mautner desde o inicio da sua carreira musical.  Chamo de fiel escudeiro porque ele sempre soube respeitar a loucura do Mautner e muito mais do que isso entender o seu lugar dentro disso tudo. É bonito ver uma amizade e cumplicidade musical e artística que extrapola todos os limites do ser humano. Eles são amigos e o respeito é mutuo sem ego e sem arrogância. É isso que torna tudo possível essa parceria duradoura e gera uma química perfeita. Jacobina ouve a tudo e lógico que tem uma sabedoria tão grande quanto, mas está sempre ao lado absorvendo isso tudo e como um expectador ouve e se diverte com isso tudo. Olhando assim poderia ousar dizer que são duas peças inseparáveis. Duas partes de um mesmo ser, muito mais abrangente e talvez incompreensível. Jacobina toca muito e preenche todos os espaços sonoros com um violão hora extremamente técnico e ritmado mantendo uma base quase percussiva, hora em improvisos. Apesar de muitas vezes os méritos ser todo atribuído ao Mautner, faz toda diferença perceber o quão importante é a presença de Jacobina ao lado de Mautner.

O show contou basicamente com músicas dos seus últimos dois discos, eu não peço Desculpas (em parceria com Caetano Veloso) e Revirão de 2007 e alguns sucessos como Maracatu Atômico, Vampiro e Sapo Cururu entre outras. Lógico que faltou tantas outras e sempre vai faltar, a obra do Mautner é tão intensa que seria impossível revisita-la num único show. Fiz questão de documentar tudo para posteridade. O legal é que a partir desse primeiro contato poderemos traze-lo numa segunda oportunidade. Sei que isso é clichê, mas quem foi presenciou um momento único. Fica aqui o meu agradecimento ao Jr, que é empresário do Mautner e se mostrou prestativo quanto a proposta, mas também a Unochapecó idealizadora do projeto e todos os seus apoiadores. Antes de encerrar gostaria de deixar a letra da música e um vídeo do show em Chapecó da música Executivo-executor. Do seu ultimo trabalho e que ajuda a resumir uma pouco disso tudo que eu me referia no texto acima.

Executivo-Executor

(Jorge Mautner/Nelson Jacobina)

No meu pensamento primitivo
Que não se cansa de pensar
Penso que se o cara é um executivo
Ele tem que executar!

Executa um, executa dois depois,
E de uma vez executa três!

E ele vai à luta
Com toda fôrça bruta
E com toda consciência
De que só existe a lei da sobrevivência

Estuda economia, História e faz esporte
Porque sabe que a supremacia
É a vitória do mais forte
Faz disso uma ciência
E a gargalhar com a fôrça da natureza
A sua empresa
Começa a enxugar

Enxuga um, enxuga dois depois
E de uma vez enxuga três!

Para mais informações acesse: www.jorgemautner.com.br

GRAAAAAAAAAAANDE PLATO!!!

Single novo. Sempre é uma ótima surpresa.

Acesse o link e baixe o seu.

http://www.senhorf.com.br/agencia/main.jsp?codTexto=6077

São três músicas novas.

No link tem uma entrevista bem bacana.


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