Arquivo para setembro \12\+00:00 2022

“Canções de ninar e/ou conversa pra boi dormir”

O dia que a John Filme virou a Banda Repolho.

John Filme e Roberto Panarotto

Este é um disco sem numeração. Um volume neutro. Não conta muito na contagem dos discos oficiais. Nem da banda Repolho (que ainda não acabou), que insiste em ser algo que nunca foi, e muito menos na John filme (que resolveu acabar), e que se trans-metamorfose/ou em outra proposta. Mais aberta, mais abstrata, mais sensorial: Tutu Nana.

Este disco, por mais neutro que possa parecer, talvez sem importância dentro de uma cronologia discográfica, preenche espaços sensoriais com uma força incrível.  Como se a libertação fosse um sinal muito mais profundo do que simplesmente poder sair de casa. Vivenciamos o auge de uma pandemia no início de 2021, estávamos enclausurados, quando num momento de alívio imediato, Roberto decide fazer uma visita a banda John Filme, que naquela altura do campeonato estava morando em Chapecó, mas especificamente no Passo Bormannn, numa chácara. Vivendo, tocando, se escondendo da pandemia, fazendo música, fazendo desenhos aleatórios, expulsando mortos insepultos, sem tolerância ou negociações para aglomeres.

Poucas pessoas em formato restrito.

Quando Roberto chegou, o Chagas estava fritando pastel e a banda estava tocando. Roberto foi adentrando, já com a câmera na mão, fazendo seus habituais registros introdutórios e incomodativos. Sempre na expectativa de que acontecesse algo que mereceria registro. A John Filme já estava tocando algo mais aleatório quando Akira convida Roberto para tocar. Roberto vai pra bateria e Nando vai para percussão. Desse momento insólito surgiu a música “Loopzinho”. A sexta música do Ep que acabou misturada com um trecho de “Não Fui Eu” versão-reggae-nights-hits, recortada para não parecer muito prolixa. Roberto não sabia, mas enquanto ele gravava com suas câmeras portáteis, eles, a John Filme, estavam gravando tudo em áudio num programa multipistas. Depois disso, Akira disse, vamos tocar algumas músicas do Repolho e daí o Roberto pode cantar.

– Vocês sabem tocar? – Perguntou Roberto.

– Não importa! – Respondeu Akira. Não precisa saber tocar para tocar as músicas do Repolho.

E assim as coisas foram acontecendo. Ninguém tirou as músicas para que parecesse com algumas coisas pré-existentes. Elas simplesmente aconteceram. Em formato livre e espontâneo. De memória. Em lembranças, do tipo eu acho que é assim, toca desse jeito, acelera aqui que o Roberto se vira pra cantar do jeito que dá. 

24 de abril de 2021 foi um dia divertido que terminou com pizza e mais ensaios aleatórios e improvisados.

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Um tempo depois, Nando, manda os áudios de algumas das músicas recortadas desse grande ensejo / improviso musical para o Roberto. Seis faixas para ser mais exato. “Adriana”, “Musquitão”, “Não Fui Eu”, “Carla Fernanda” e “Abel e Caim”, contando nessa lista a versão reggae de “Não Fui Eu” que foi, posteriormente abandonada no processo.

O processo, no caso, veio de uma sugestão do Roberto para que se regravassem uns vocais, e se fizessem uns overdubs de alguns samplers etc, etc.  Esses “etc, etc” com a ideia de “corrigir” algumas coisas, desdobrar em outras coisas… o Jivago foi contra. Achou que as coisas deveriam ficar daquele jeito mesmo, como um retrato, cru, ocasional e despretensioso e sem a aplicação de botox. Roberto insistiu que tinham alguns ajustes leves que poderiam “valorizar” a experiência de quem vai ouvir, mas sem que se perca aquela sensação de espontaneidade do que foi vivido naquele dia. E assim, com a aceitação de todos (ou da maioria), as coisas acabaram se desdobrando em alguns arranjos diferentes para as músicas. Ensejos e possibilidades que foram surgindo quando se teve a consciência coletiva de que aquela ideia de lançar um EP, de ensaio mais cru, poderia virar um EP de ensaio cru, mas com algumas delicadezas overduabizadas, quase al dente.

Se foi um dia divertido que virou uma gravação divertida, algumas sessões de overdubs divertidos na mansão divertida da Gladis. O que fazer com isso? Com esse resultado que restou dessa diversão toda?

Fala com o Garras e lança nos streamings! Mas com o nome de que?

CAPA DO EP – JOHN FILME TOCA BANDA REPOLHO – FEAT ROBERTO PANAROTTO

John Filme toca Repolho e Roberto canta.  Sei lá, não importa. Temos esse disco, um EP com seis músicas (porque ninguém teve coragem de gritar nove, talvez doze pra virar um LP). Em breve o áudio ininterrupto do ensaio será disponibilizado. Ouçam, se possível com fone de ouvido.

Lichia para todos vocês!

FOTOS: Eduardo Chagas


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