Não sou muito simpático a datas comemorativas, aniversários, feriados etc, mas confesso que as comemorações em função dos 80 anos de nascimento do russo Andrei Tarkovski estão muito legais. Além da homenagem com uma retrospectiva da obra do cineasta na Mostra de SP deste ano, com a presença de Andrei Andreevitch filho de Tarkowski e responsável por manter a obra do pai, vários lançamentos e exposições nos contemplam com a obra deste que exerceu um olhar único sobre as regiões abissais do sentimento humano. Tarkowski morreu em 1986, mas sua obra de uma forma ou de outra se mantém viva e sempre pontuando mais do que um olhar sobre o cinema, mas um olhar sobre o tempo, a poesia, o ser humano, sentimentos, estética… “Mas meu pai nunca fez nenhum projeto que comprometesse sua visão. Ele não buscava fama ou dinheiro. Seus filmes eram buscas espirituais”, observa Andrei Andreevitch se referindo a obra do pai.
Esculpir o Tempo
Além de cineasta, Tarkovski tinha uma ligação forte com as artes como um todo, e tinha essa necessidade de pensar o cinema, não somente através do olhar sobre a película, mas também enfocando em aspectos teóricos. O livro Esculpir o Tempo é um bom exemplo disso, e já tinha sido publicado no Brasil, mas estava esgotado há muito tempo, foi relançado esse ano pela editora Martins (http://www.livrariamartinseditora.com.br/descricao.asp?cod_livro=TA4810). O livro talvez seja um dos maiores tratados sobre o cinema de todos os tempos. O texto flui e nos possibilita uma percepção mais próxima do olhar do diretor. Juntamente com essa republicação, temos dois outros livros publicados pela Editora É. Um deles são os Diários – 1970/1986 (http://www.erealizacoes.com.br/livros/Diarios_1970-1986.asp) deTarkovski, que trazem as anotações diárias (ou não) feitas pelo cineasta desde a década de 70. O livro apresenta fotos e rascunhos diversos que demonstram os processos criativos do diretor. Junto com esse lançamento temos o Sacrifício (http://www.erealizacoes.com.br/livros/O-Sacrificio.asp), romance/roteiro, com inúmeros frames do seu ultimo filme.
Luz Instantânea
Recentemente estive em são Paulo e pude conferir a exposição “Luz Instantânea”, uma série de 80 fotos polaroides, feitas pelo diretor na Rússia e Itália, entre 1979 e 1984. A exposição é um oportunidade de entender o olhar de Tarkowski, a sensibilidade dele em relação a imagem. As sensações estéticas são absurdas e é uma oportunidade de estar próximo a algo que traduz de forma única o olhar atento do diretor. Em se tratando de polaroides, as imagens trazem a carga do tempo, já que essas imagens não vão ficar ali para sempre. Todos sabem que as polaroides desbotam, perdem a cor e as imagens desaparecem com o passar dos anos. As imagens foram selecionadas pelo filho do cineasta também estão reunidas no livro “Tarkóvski – Instantâneos” (publicado pela Cosac Naify – http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/1711/Tark%C3%B3vski—Instant%C3%A2neos.aspx).
Muito mais do que cineasta, Tarkovski foi um artista, que pensava nas artes de forma plena, ou então um poeta como ele mesmo gostava de se identificar. Todo esse material reunido caba sendo um tratado sobre o cinema, artes de forma geral. Aproveite o embalo para assistir ou reassistir os 7 filmes e ir aos poucos juntando os fragmentos desse imenso quebra cabeça de muitas peças e inúmeras sensações .