A noite começou como sempre a noite começa em dia de show. Com todo aquele processo de ciceronear os músicos de fora, passagem de som e ajustes finais. Muitas vezes antes que a noite realmente chegue. Aquela troca de experiências que acabam acontecendo. E a proposta sempre foi essa: tocar, se divertir, trocar experiências e descobrir elementos facilitadores dentro de processo de musica alternativa para que as coisas realmente aconteçam. Fazia um tempo que o Astronauta Pingüim não se apresentava em Chapecó. Na verdade nas outras vezes que ele veio pra Chapecó, sempre foi acompanhando Júpiter Maçã. Mas na verdade entre um projeto e outro, seja na parte de produzir amigos (Jimi Joe, Pupilas Dilatadas, Daniel Beleza, Revoltz entre outros), acompanhar os amigos no palco, discotecar, Astronauta Pingüim tem uma carreira solo com dois discos lançados. É legal perceber que nesse contexto o Pingüim não se leva muito a serio. Acho legal esse tipo de postura. É profissional, cumpre com os seus atributos, mas esta de bem com a vida e encara as coisas de maneira mais descontraída. Acredito que seja uma arte o cara saber rir dele mesmo e se divertir com isso. Nunca tinha visto ele tocando em carreira solo e confesso que me surpreendi. Aquela figura pacata e simpática abre espaço para o monstro do moog dos sintetizadores e encara algo totalmente superior. Mas um monstro (dando seqüência na metáfora) comunicativo e que sabe o que esta fazendo. O que o pingüim faz no palco??? Se diverte. Tu percebe isso mesmo nos momentos mais sérios do show ou então nos momentos mais descontraídos, entre um música e outra. Conversando, ele diz que não está muito preocupado e sabe que o tipo de som que ele faz é assim mesmo. E que talvez num primeiro olhar as pessoas tenham certa dificuldade de entender o que ele se propõe a fazer. E até acha legal quando alguém diz que não gostou. Dessa vez ele veio acompanhado do baterista Ramiro (mas ele tem vários músicos que o acompanham pelo Brasil) é difícil hoje em dia você viajar com uma estrutura fixa. O Brasil tem uma extensão territorial muito grande e as distancias encarecem qualquer produção mais alternativa. Na verdade o Pingüim faz uma coisa que o Wander também faz e quem sabe uma série de outros músicos em carreira solo vem fazendo ou deveriam fazer. Juntar pessoas em diversos lugares para toda vez que ele viaja, levar somente o básico (ou seja ele mesmo). Mas enfim… intenção do show foi mais ou menos a seguinte: Eles viriam até Xanxerê (terra natal do Ramiro) para gravar um vídeo clipe de uma música que está no segundo disco do Pingüim. Aproveitaram para gerar a possibilidade de um show. Contataram a banda Epopéia que estava procurando uma oportunidade para lançar o segundo EP da banda e propuseram um grande evento.
O que foi a festa? Uma noite intitulada “desConcerto do Tempo”, com direito a duas bandas muito bacana e projeções de filmes do Kubrick e do Tarkovski.
Voltando ao show do Pingüim. O show é composto por músicas que estão principalmente no segundo disco solo e também releituras a partir das suas referências musicais. Aí, nessa salada toda, tudo soa muito original, porque podemos conferir num mesmo show Smiths, Júpiter Maçã, o seu trabalho solo e Madona. O Pingüim utiliza como equipamento sintetizadores e moogs (inicio da música eletrônica e que tem no Brasil seu maior expoente representado pelo músico Lafaiete) e o show foi uma catarse psicodélica. Pois bem o lado Lafaiete abriu espaço para a voz. As vezes normal, mas na maioria das vezes utilizando um vocoder (instrumento da década de 70 que sintetiza a voz deixando-a com som robótico). O baterista Ramiro é quase uma “Meg White” em seu estilo de tocar. Simples, economizando as possibilidades que o instrumento tem e possibilitando que a massa sonora se forme em torno dos instrumentos tocados pelo Pingüim. O solo proferido por ele no meio da música Lugar do Caralho foi simplesmente sublime. Uma percepção estética minimalista que impressionou pelo despojamento e leveza com que as coisas aconteceram. Uma criança que estava na platéia olhou e disse: É o au au???
O final do show, que foi crescendo aos poucos e acostumando os ouvidos menos avisados, foi apoteótico com direito a música Lugar do Caralho (um verdadeiro hino underground) do Júpiter Maçã, com intromissão deste que vos escreve, no vocal. O show terminou com o público ao delírio pedindo biz. Mas a noite ainda prometia surpresas. E o show do pingüim que não foi muito longo e que o meu ver nem deve ser pra não encher muito o saco abriu espaço para o som mais rock and roll da banda Epopéia.