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Cachorro Grande lança seu novo disco “Costa do Marfim”

Cachorro Grande - Costa do Marfim 1

—prepare-se para viajar de volta pro futuro—

Por – Roberto Panarotto

A Cachorro Grande está a um passo além do amadurecimento… musical e conceitual. Apodreceu então? Envelheceu com saúde? São as perguntas que se fazem quando vemos o tempo passando e as bandas se modificando, envelhecendo ou evoluindo… É melhor ser jovem inconseqüente, explosivo, criativo ou alguém com sabedoria e rancor dos velhos?

Cachorro Grande não é uma banda tão velha, mas construiu em pouco tempo momentos significativos nesse cenário musical da década de 2000. Eles (os integrantes) já tinham estrada quando montaram o grupo e, de maneira inteligente, souberam entender cada um dos momentos e das fases que a banda poderia ter ou atravessar. Pra mim que acompanho desde o início fica clara a percepção desses momentos: a explosão dos primeiros discos, a passagem do alternativo para uma gravadora, a saída do Rio Grande do Sul para o Brasil, a despedida das quebradeiras físicas para as quebradeiras conceituais, e o flerte com a música eletrônica, preparando o território para este disco chamado “Costa do Marfim”.

Não é ocasional isso. É reflexo de uma carreira muito bem pensada. Sim. Eles sabem o que fazem e como fazem para sobreviver ao marasmo da música/rock nacional e apresentar alternativas.

Nos dois últimos discos lançados por eles era perceptível certo comodismo. São discos legais (apesar de não gostar muito do “Cinema”). Até brinquei, em uma das vezes que eles tocaram em Chapecó, que já tinha visto muitas fases legais da Cachorro e não iria ver a fase decadente da banda, por isso não iria no show. Não que realmente achasse aquele momento decadente, mas achava muito a mesma coisa. Uma repetição de discurso e sensação que a coisa toda tinha estagnado. Seria fácil pra eles, que tem um número X de hits, continuar o resto da vida se apoiando nos hits e não proporcionar algo diferente para o seu público e para eles mesmos.

Cachorro Grande - Costa do Marfim 3

Mas não, eles não pensam assim e o novo disco “Costa do Marfim” vem justamente pra mostrar uma nova faceta da banda e chutar bundas acomodadas. “Costa do Marfim” está sendo lançado prioritariamente em vinil pelo Selo 180 (também responsável pelo lançamento do disco anterior e de um compacto em vinil inédito), mas está disponível para download na apple store e também (ainda) vai sair em CD a partir do dia 15 de setembro.

Aliados a um status/carreira construída/consolidada dentro desse cenário nacional, sem gravadora e com total autonomia para gerenciar a sua carreira de forma ímpar, eles conseguem com esse álbum injetar um novo gás na banda. Chamaram para essa empreitada o produtor Edu K e pensaram um álbum conceitual ao extremo. Sim, os puritanos, os acomodados, os conservadores vão reclamar… talvez não vão entender. Mas quem ouvir atentamente vai perceber que nesse momento acontece uma pequena explosão criativa pronta para atingir maiores proporções assim que lançado/assimilado.

Se trancaram durantes algumas semanas na “Costa do Marfim”, como foi divulgado amplamente durante as gravações, para então extrapolar. Sem se preocupar se o disco iria tocar na rádio ou no caminhão do Faustão. Pensaram num álbum novo, moderno, talvez despretensioso. Atualizaram o som e a mudança é significativa, principalmente na intensidade dos momentos eletrônicos. Mas não pense que você vai ouvir um disco eletrônico. As mudanças são inúmeras, é visível isso no jeito de tocar e cantar também. Está tudo muito bem equilibrado e cria uma sintonia muito bacana com esse novo momento da banda. Mas o legal é que a surpresa da primeira audição passa logo e até assusta um pouco, mas no decorrer do álbum percebemos o bom e velho Cachorro Grande latindo mais uma vez.  Diria que é uma sensação parecida de quando encontramos aquele velho amigo que mudou radicalmente o visual, cortou o cabelo, tomou banho, passou uma fragrância diferente. E isso está no próprio conceito de capa, fotos de divulgação (feitas pelo Cisco Vasquez), materiais gráficos e videoclip (dirigidos pelo Charly Coombes). A repaginada é geral. O nome da banda sequer aparece na capa. E não precisa mais. Atingiram um status que proporciona essa liberdade.

O disco tem 11 faixas, sendo que duas delas são vinhetas, uma introdutória e uma de encerramento, amarrando o disco conceitualmente. Dentro dessa lógica vemos (ouvimos) um Cachorro Grande mais experimental e que não se preocupa com o tamanho das faixas. Tem músicas que chegam a ter mais de nove, dez minutos. Explorando uma percepção sinestésica diferenciada, criando climas e ambientações psicodélicas. O Gross disse que se antes eles faziam um rock de bêbado, agora fazem um rock “psicodélico eletrônico, de bêbado”.

Cachorro Grande - Costa do Marfim 4

A primeira música do disco (fora a intro) é mais climática, percebe-se uma ousadia conceitual, a vontade de fazer algo novo, de mostrar uma nova cara. Com mais de dez minutos de duração e uma longa introdução eles vão aos poucos mostrando a que vieram com essa proposta. O vocal só entra em cena aos 2:45 min. Entre ruídos eletrônicos e sons extra-sensoriais eles introduzem o disco de forma interessante.

A faixa seis com o nome “Use o Assento Para Flutuar” cria um link conceitual com o primeiro disco solo do Marcelo Gross, de mesmo nome. Mas não tem nada a ver. Enquanto no disco solo Gross vai para o passado, o disco novo da Cachorro é focado no futuro.

A produção do Edu K esta sensacional. É perceptível o nível de imersão sensorial de barulhos e ruídos eletrônicos.  E também, que a sua influência e participação, não mudou a essência da banda. O disco foi masterizado por Tim Turan, em Oxford, Inglaterra. Se nos discos anteriores era mais perceptível as fases e referências, nesse novo lançamento a coisa se torna mais intensa e abstrata. Porque a mistura é muito maior, e sendo mais ampla diluiu melhor as influências. Uns vão ver um Kraftwerk do futuro, outros podem ver um Kasabian do passado. Mesmo com essa pegada eletrônica, é fato de que tem uma super-banda tocando junto o tempo todo. Mesmo nos momentos mais lentos a banda está pesada e as músicas consistentes.

Dentro do repertório é possível perceber também a força de canções mais pop, como por exemplo a faixa dez “O Que Vai Ser”, ou então “Nuvens de Fumaça”, que poderiam muito bem embalar qualquer festinha pop-cult-matinê ou tocar nas rádios mais comerciais. Nesse sentido o disco também apresentam viagens mais radicais, como por exemplo a faixa “Torpor parte 2 e 5”, uma longa narrativa interminável, sobre uma insana história que aconteceu em Passo Fundo (ou não), com um clima noir e uma voz carregada e rouca, sugerindo imagens cinematográficas mil.

A minha curiosidade é entender como o público vai reagir a isso ou então como vão soar essas músicas ao vivo, somado ao repertório anterior. Valeria a pena ver um show de lançamento com a banda tocando o disco na íntegra e na sequência. Em conversa com o Gross ele comentou que estão armando um grande show de lançamento (dia 10 de outubro no bar Opinião em Porto Alegre) priorizando essa nova fase, em que a apresentação vai ter (espécie de) capítulos contemplando cada uma das fases. Enfim… “Costa do Marfim” é um marco na história da Cachorro Grande e consequentemente na história do Rock nacional. Ouça e tire suas próprias conclusões.

 compre o vinil aqui:

http://www.selo180.com/cachorro-grande-costa-do-marfim/

 Compre a versão digital aqui:

https://itunes.apple.com/album/id909507099

Cachorro Grande – Costa do Marfim

Lançamento: 15 de setembro de 2014

Número de Catálogo: 180-2×12/007

Dimensões: LP Duplo de 12 polegadas

Rotação: 45 rpm

Sistema de Reprodução: Estereofônico

Gramatura: 180 gramas

Tecnologia de Corte: DMM

Prensagem: GZ Vinyl (República Checa)

Tiragem: 500 exemplares

Edição limitada & numerada: 100 exemplares em vinil colorido (verde haxixe)

Material Gráfico: capa dupla (gatefold) & encarte duplo (60 x 30cm) frente e verso.

Faixas:

A1 Costa do Marfim (Cachorro Grande / Edu K) [1:10]
A2 Nós vamos fazer você se ligar (Beto Bruno / Marcelo Gross) [10:54]

B1 Nuvens de fumaça (Marcelo Gross) [4:50]
B2 Eu não vou mudar (Beto Bruno) [6:20]
B3 Crispian Mills (Rodolfo Krieger / Edu K) [4:58]

C1 Use o assento para flutuar (Beto Bruno / Gabriel Azambuja) [6:09]
C2 Como era bom (Beto Bruno / Rodolfo Krieger) [4:55]
C3 Eu quis jogar (Marcelo Gross) [4:30]

D1 Torpor partes 2 & 5 (Beto Bruno / Edu K) [8:19]
D2 O que vai ser (Marcelo Gross) [5:06]
D3 Fizinhur (Cachorro Grande / Edu K) [1:01]

Produzido por Edu K.

Trompete em “Torpor partes 2 & 5″: Ricardo Spencer.

Backing vocals em “Eu quis jogar”: Denise Gadelha e Nina Cavalcanti.

Fotografia e Capa: Cisco Vasquez.

Gravado no estúdio Madeira, na Costa do Marfim, durante o verão de 2014.

Masterizado para formato analógico por Tim Turan, em Oxford, Inglaterra (2014)


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