Escrito por: Roberto Panarotto
É incrível o apego digital que as novas tecnologias nos possibilitam. Nos sentimos obrigados de forma esmagadora a interagir com isso tudo. É tudo hiper, mega, full, maxi resolution. É tanta resolução que não existem mais espaços suficiente para nada. E para isso, lá se vão espaços virtuais destinados a esse lixo todo que recolhemos diariamente nesse espaço descontinuo, abstrato e incompreensível que é a internete. São zilhões de pixels de muita coisa, fotografias digitais, músicas, filmes, jogos e bobagens em geral que vamos acumulando. E acumulando. E Acumulando. E acumulando. E como diria a mula para o mulo:
– é o cúmulo!
Tudo isso precisa espaço. Muito espaço. Cada vez mais espaço. E a solução se apresentou com a melhor e mais genial das tecnologias lançada recentemente (mas que já esta quase obsoleta). A salvação da lavoura. Uma lavoura de HD’s externo.
Comprei o primeiro com um tera. Nossa, que sensacional um terabyte de espaço (que correspondem a (999 + 1 giga), nunca vou preencher tudo isso. Me senti poderoso, infinito… Chuck Norris. Até o momento que o tera acabou. Veio então o segundo membro da família HD externo com um tera e meio em formato retrô, parecendo os equipamentos do Leonard Nimoy. Imagina quanta modernidade e quanta coisa poderia ser ali depositada. Como num passe de mágica tudo voltou a ser infinito e inacreditável. E veio o fim do segundo HD e tive que aumentar a família. O sentimento digital aumentava gradativamente e proporcionalmente e foi então que veio mais um hd de dois teras. Com isso tudo percebi não teria fim. Pensei que esse sentimento digital infinito duraria para sempre. Parece redundante, mas pensei, comigo mesmo até que enfim inventaram um infinito de verdade. Me vi trancafiado numa casa construída com HD externo ao invés de tijolos. Inúmeros fios e entradas USB que conectariam tudo. Na internete tudo se multiplica de forma quase orgânica e infinita.
E veio o quarto HD de dois terá… e junto com ele a fragilidade e a frieza de um relacionamento digital. Comecei perceber que alguns arquivos simplesmente passam a não funcionar mais ou desaparecer. E o quarto HD da família começou a dar problemas. Primeiro um arquivo que deu pau. Depois um outro que sumiu, um compartimento que eu não conseguia mais acessar e outros que eu não conseguia excluir. Percebi que ele criava vida. Que havia um fantasma dentro da concha. que não respeitava os psdrões e não seguia regras. Um filho rebelde, o HD estava criando vontade própria. Até que… atenção os momentos seguintes contém spoiler.
É com o pesar, de quem ainda não raciocinou direito, que lhes comunico que o quarto HD veio a óbito. A família HD está órfã do seu mais recente rebento. Se revoltou contra tudo e pediu demissão, resolveu não ir trabalhar mais, foi pra ter(r)a dos hd junto, bateu os terabytes, começou fazendo greve, se suicidou… terminou como um grande vazio de informações não localizáveis. Ficou o espaço físico do tamanho de um tijolo e junto com ele se desmoronava o sonho de uma casa de HD. É lamentável e triste perceber que foram tantos momentos compartilhados e que simplesmente desaparecem como se aquilo nunca tivesse existido. “A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar…” Nesse trecho da musica, o Raú falava dos hd externo. Só pode. Pusta visionário!
É nessas horas que percebemos como somos frágeis perante esse universo intenso e absoluto. E que todo esse vazio que buscamos incessantemente preencher com algo, está dentro de cada ser humano e não somente numa máquina. Fico pensando nas fotos, nos filmes, e nos momentos perdidos colecionando algo. Uma coleção de “nada virtual” guardados em dois tera. O que restou disso tudo??? A “ter(r)a” debaixo das unhas. É só isso que nos resta. Até o momento que essa mesma “ter(r)a” debaixo das unhas tome conta e nos cubra por completo e em definitivo, regressando a existência humana as origens do ser. Uma pseudo existência que não serve pra nada. Tinha o céu e o inferno como opção, agora temos mais um universo insólito de coisas digitais. Quando eu morrer quero ir pra lá e encontrar todos esses arquivos perdidos.