/“What a Bum Kick To Die In This Awful Place?”

/ Direção e Roteiro: Roberto Panarotto

/ Sinopse:

De qualquer jeito, ouça minhas últimas palavras. Em dias pingados pra não ficar surdo. Sublimar sua individualidade em melodias soterradas. Em pretextos para criar ruídos ou novos timbres. Não precisa mais, deixa do jeito que está.

/ Créditos:

Direção e Roteiro: Roberto Panarotto

Câmera: Roberto Panarotto, Demétrio Panarotto e Eduardo Fernandes.

Pós-produção de áudio: Roberto Panarotto

Trilha: “Loopzinho” – John filme c/ a participação de Roberto Panarotto

Atuação: Roberto Panarotto e Demétrio Panarotto

Quadro: Ilaine Panarotto – (o Velho Burroughs)

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/ O evento.

O curta foi produzido para o evento “Inflamável”, um festival de realização de curtas experimentais em tomada única no formato Super-8, sob a idealização, curadoria e realização de Cláudia Cárdenas e Rafael Schlichting (Duo Strangloscope). As gravações aconteceram em dezembro de 2021 e o evento de lançamento dos curtas foi realizado em março de 2022.

Card de divulgação utilizado.

Intagram do evento: https://www.instagram.com/inflamavelfestivalsuper8/

VEJA O CURTA AQUI: https://www.youtube.com/watch?v=paGDB3HUNuw

/ As regras.

O filme deveria ser feito em tomada única, não poderia ter uma pós-produção de montagem, nem de tratamento de cores. A trilha de áudio (se tivesse) teria que ser composta sem o compositor ver o filme.  O diretor convidado veria o filme junto com o público quando a plataforma com todos os curtas do evento fossem ao ar no lançamento. 

/ O processo.

O processo de desenvolvimento dos curtas foi igual para todos os diretores participantes (ao todo 24), que receberam uma câmera com um rolo de filme super-8 (com cerca de 3 minutos, em pb ou em cores). Depois de realizado o curta, a câmera e o filme foram devolvidos para a equipe organizadora que encaminhou o filme para ser revelado e digitalizado. Se o diretor optasse por um áudio, esse áudio seria realizado sem o acesso às imagens filmadas e a edição do áudio no arquivo final foi feita pela equipe do festival. Ao final, depois do filme exibido nas plataformas online, o arquivo digital com o filme foi entregue aos participantes.

/ Roteiro – estrutura.

Pensei que esse roteiro poderia ser construído primeiramente entendendo as delimitações que as regras impõe a realização do curta. Quando se tem esse tipo de proposta com regras claras, elas acabam determinando certas limitações, o que ao meu ver, torna a criação algo interessante. Em todos os filmes ou produções cinematográficas acontecem percalços, nesse caso os percalços faziam parte da regra e naturalmente, se bem utilizadas, contribuem para a estética final. 

Com isso em mente fui determinando algumas premissas que me facilitariam na captação das cenas. Por exemplo, determinei que essa sequência de cenas, seriam gravadas num só local onde eu pudesse ter uma variação de ângulos, para que não precisasse me deslocar muito para realização. Também entendi que essa dinâmica de gravação ajudaria a determinar um ritmo ao filme, já que eu não teria a opção de ver o que foi gravado para um possível ajuste de montagem. 

/ Roteiro – ideia.

O roteiro foi construído com a ideia estabelecer relações a partir das mais diversas manifestações artísticas ligadas a tecnologias da década de 70. Tendo o cinema como base, mas tentando entender como relacionar à fotografia, como inserir a pintura, ou a literatura… a música… e assim por diante.  

Determinei que alguns objetos não só criariam essa conexão, mas também estabeleceriam possibilidades narrativas. Nasci na década de 1970 e tenho essa relação afetiva que se dá justamente pelo uso dessas ferramentas dos formatos analógicos, dos toca discos, fita cassete mas nesse caso do curta, entendendo o cinema enquanto Super 8, a fotografia através da câmera Polaroid e a pintura através de um quadro que tem na casa da minha mãe e que foi pintado por ela em 1979. Quando era criança acompanhei a minha mãe pintando esse quadro. Na época eu deveria ter 6 ou 7 anos e esse momento ficou marcado porque era um primeiro contato que eu tinha com a pintura, mas também porque esse quadro sempre esteve presente em diversos momentos nas mais diferentes mudanças que a família teve ao longo dos anos. Sempre me chamou a atenção esse velho sentado num banco de uma praça, refletindo sobre alguma coisa, numa atmosfera outonal que desaparece em função do preto e branco usado no filme, mas muito presente quando se vê a imagem em seus tons originais.  Ao fundo, compondo esse cenário, uma casa misteriosa com aspectos bucólicos e que de certa forma remetem as ruas da minha infância. 

O que isso quer dizer? O que esse velho está pensando? Quem é esse velho? A cada momento em que observo esse quadro, percebo que o tempo modifica as respostas para essas perguntas. Entendi que colocando o quadro no filme, poderia criar um outro desdobramento para ele. Encontrar outras respostas ou estabelecer novas dúvidas. 

Anotações roteiro.

/ Roteiro – escrito. 

Fiz algumas anotações, do que eu queria e de como eu pretendia realizar o curta. Não foi um roteiro fixo, com planos, ângulos e tempo determinados. Até pensei que poderia fazer isso na intenção ou na ilusão de determinar certo controle, mas acabei desistindo. Porque ao filmar em super-8, a cronometragem do tempo não é precisa e achei que não faria sentido, dispor tanto esforço num aspecto técnico que no final não faria diferença alguma na proposta que pretendia realizar. Me concentrei no feeling do que cada cena poderia proporcionar, de como essa sequência determinaria um ritmo e de como os cortes bruscos e repetições ajudariam a criar a atmosfera desejada. Sempre que penso uma ideia para um novo filme, um argumento ou então um roteiro, estabeleço algumas premissas conceituais do que eu quero e como eu quero que sejam feitas. Deixo sempre em aberto as possibilidades de um ocasional que possa vir acontecer. Algo que vai adentrar na ideia, vai direcionar algumas interpretações, mas não vai modificar a essência. 

/ Camadas e repetições.

O filme é um conjunto de camadas e intersecções, como as folhas de um livro que se sobrepõem, se complementam e que acumulam poeira. Como uma pintura que se forma a partir das camadas de tinta que se misturam em espaços relativos, mas que também criam texturas e ruídos quando se observa em ângulos diferentes. Que desbotam com o tempo, se complementam nesse envelhecimento e ajudam a atribuir outro formato à imagem. Como a imagem que está sendo filmada e fotografada, que se apresenta no filme, como parte de uma mis-en-scene onde não vemos resultado do que foi fotografado e que não importa, porque narrativamente estamos nos referindo ao ato de criar camadas em diferentes tipos de verticalidades. Num tipo de fotografia que é química, instantânea e frágil. Muito próxima à ideia de finitude, de um tempo que se esvai, como as tecnologias que se renovam ou como as histórias que aos poucos vão desaparecendo.

Subjetivamente queria criar essas camadas que se apresentam de forma repetitiva. Entendendo que esse tanto de tempo depois que se passou, desde então, poderia ressignificar o contexto como um todo, porque tudo ali é perecível. 

O olhar circular das coisas que se repetem, dessas situações cotidianas que se proliferam em circularidades e se modificam a cada piscar de olhos. A ideia de um filme que, assim como o tempo, gira em torno de si mesmo. Um vortex que determina o centro, mas que se movimenta fazendo com que esse centro possa se deslocar determinando não só um outro lugar no espaço mas também no tempo. Uso esse recurso narrativo e conceitual em outros filmes que eu dirigi.

/ Polaroid.

Desde o início, na minha concepção as polaroids tiradas seriam utilizadas num cartaz de divulgação do curta, que acabou não sendo feito. E não foi feito, porque não foi necessário, mas achava interessante essa outra conexão e possibilidade que a narrativa teria ao se desdobrar, saindo da narrativa do filme, mas fazendo parte do cartaz. Gosto desses desdobramentos de uma história que se apropria das possibilidades de divulgação não de forma publicitária, mas entendendo que elas possam acontecer de forma complementar. Como acontece nesse caso do possível poster, mas também na sinopse de divulgação que entendo como parte narrativa do filme e assim por diante.  

Fotos polaróides tiradas durante o filme.

/ O Lugar. 

O lugar em si, não tinha importância, não queria essa identificação do espaço, deixando mais aberto a interpretações. Tinha em mente que a execução poderia ser mais simples e num primeiro momento tinha pensado em fazer numa sala (sem muita decoração), somente com o quadro de fundo onde eu e o Demétrio estaríamos um de frente pro outro realizando os gestos fotográficos. Um filmando o outro, que estaria fotografando e vice-versa nesse ciclo de repetições em plano e contraplano. Rápido, frenético, repetitivo e instantâneo. 

Primeira ideia de organização de planos e local.

Em conversas com a Cláudia e o Rafa, eles comentaram que se fosse fazer em local interno, precisaríamos de mais luz, talvez mais pessoas para ajudar e isso acabaria complicando. Partimos pra ideia de fazer em local ao ar livre com o intuito de facilitar. Em Florianópolis qualquer deslocamento é difícil em períodos do ano “normais”, em época de fim de ano, onde o turismo se acentua, dificulta mais ainda. O Demétrio sugeriu fazer no pátio da universidade (UFSC). Entendi que podia executar a mesma lógica de repetições, sem modificar muito da ideia original, mas entendendo que poderia determinar outras possibilidades de ângulos e sequências, mas também de ritmo que o filme poderia ter. Um exemplo disso é a cena de abertura. Ela não havia sido pensada quando a ideia era filmar numa sala. O mesmo aconteceu com a cena em que aparece eu e o Demétrio ao mesmo tempo. Essa cena, em princípio seria o encerramento do filme e faríamos de forma mais simples. estando num local ao ar livre, tinha sempre o movimentos das pessoas e numa dessas vimos um grupo de jovens passando e resolvemos solicitar o auxílio de alguém para filmar. Aí vem as coincidências, porque um dos jovens, o Eduardo Fernandes, é estudante de cinema e gentilmente se prontificou a filmar a cena, mesmo que nunca tivesse filmado em Super-8. 

/ Estética – PB?!

O festival oferecia as duas oportunidades, de um filme colorido ou preto e branco. Optei pelo preto e branco porque entendi que acentuaria esse fator da nostalgia também pelo fato de ser feito em Super-8 e isso deixaria os tons e as texturas mais espontâneos. Acredito que a minha escolha tenha sido certeira porque consegui um resultado mais intenso de uma estética retrô mais suja e que tem a ver com essa memória que se torna cada vez mais turva com o passar dos anos. Também remete a um tipo de filmes realizados em preto e branco e que gosto muito.

/ A trilha.

A trilha foi um processo à parte. Como não podia ver o filme, pensei em criar uma linha sonora onde a construção de ruídos se encaixasse de forma mais espontânea e que ajudasse a potencializar essa estética do ruído que também estão nas imagens. 

Em alguns momentos utilizo alguns samplers de “melodias” e tem um momento que acrescento uma música em específico que se chama “Loopzinho” e que foi gravada em 2021 pela banda John Filme comigo tocando bateria e que está num Ep “tributo” a banda Repolho (que foi lançado no mês de setembro de 2022 pelo Selo 180). Como o próprio nome diz, traz em essência esse lance repetitivo de uma melodia que se reproduz em loop onde são acrescentadas outras informações. A música não foi gravada pro filme,mas entendi que teria tudo haver. 

As vozes são repetições de falas aleatórias sampleadas de entrevistas com o escritor William Burroughs. Ao meu ver a voz dele soa de maneira musical. Gosto do jeito como ele fala, sempre de um jeito cadenciado, com sotaque acentuado e com uma espécie de ritmo de entonação. De uma das frases ditas por Burroughs eu tirei o título do filme, que não aparece escrito, mas sim falado no início. Achei legal essa ideia de não ter texto na imagem. Se fosse colocar o título escrito, teria que ter filmado quando o filme foi feito (porque não tinha como fazer a pós-produção conforme as regras), mas achei melhor recorrer a esse recurso. Em momento algum, enquanto desenvolvia as ideias tinha pensado em filmar algo escrito. 

/ Filme mudo.

Na primeira vez que vi o filme (conforme eu falei, quando os filmes foram publicados no youtube no lançamento), assisti sem o áudio, e gostei bastante. Quando, posteriormente, tive a oportunidade ver o filme com o áudio, achei um pouco estranho, mas com o tempo fui me acostumando. Passei a entender que o filme tem essa possibilidade de ser visto de duas formas: com ou sem áudio, e com isso, temos dimensões diferentes. 

Porque ao meu entender, o ruído que está na trilha, também está na imagem e em alguns momento me parecem excessivos. Gosto do ritmo das imagens sem o áudio, porque eu pensei para que fossem vistas dessa forma. E também porque esse vazio da falta do áudio cria uma atmosfera interessante. O áudio que eu fiz acabou ficando um pouco “tenso” atribuindo até mesmo um certo suspense ao filme. Não acho isso ruim, mas foi somente uma percepção inicial que uma situação ocasional acabou causando. E lógico que acho interessante entender como essa interferência do áudio (ou não) torna visível esses contrapontos estéticos. 

/ Super-8 (!?)

Filmar em Super-8 é entender que o fator ocasional pode acontecer de várias formas. Porque se trata de um formato analógico que é realizado em várias etapas. 

Sempre que filmei em Super-8 fui surpreendido e entendo que esse é um dos grandes benefícios. Temos essa ideia de um controle aparente, mas que não se concretiza na prática (ousaria dizer que em nenhum tipo de filmagem). Mas no caso específico do super-8 é realmente uma grande incógnita. No caso do festival, aconteceu de um dos filmes (segundo relato da produção do evento) ter que ser refeito porque o filme “queimou”. Não sei exatamente em qual dos momentos, se foi na filmagem, se o próprio filme estava “estragado”, ou se foi na hora da revelação. Mas isso é outro fator interessante, porque se isso tivesse acontecido com o meu filme e eu tivesse que refazer o filme que fiz, seria um outro filme (como possivelmente deve ter acontecido com esse outro diretor). Por mais organizado em termos de sequência, de planos ou de cronometragem de cenas (que não foi o meu caso), mesmo repetindo tudo de forma “identica”, não é e nunca vai ser o mesmo filme. É sempre outro filme. 

/ WHAT A BUM KICK TO DIE IN THIS AWFUL PLACE?

O que significa? Numa tradução mais livre seria algo do tipo, “como morrer nesse lugar horrível?”. Mas qual seria esse lugar? escrevi acima que a minha ideia era deixar isso em aberto. E aqui, com esse título só reforça que o lugar, poderia ser  qualquer lugar do planeta terra e que na real isso não importa muito. Mas entendo que os desdobramentos poderiam levar para diversos lugares. Gosto de pensar dessa forma, mas gosto de me possibilitar uma ligeira interpretação disso tudo. Por isso mesmo, esse lugar poderia ser Florianópolis onde o filme foi gravado ou então Chapecó, cidade onde eu moro a minha vida inteira. Mas poderia ser um estado de espírito, um local imaginado, proporcionado pelas artes. Pela pintura, imortalizado na imagem de um velho sentado num banco de uma praça. No ruído de uma trilha intensa e repetitiva que te arrasta para lugares matemáticos. Numa fotografia em polaroid que deixa de existir porque se torna obsoleta ou num filme em super-8 que resgata a essência de um sentimento. A morte é certa e o filme determina o tempo de três minutos para que isso aconteça. 

ROBERTO PANAROTTO – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

“Canções de ninar e/ou conversa pra boi dormir”

O dia que a John Filme virou a Banda Repolho.

John Filme e Roberto Panarotto

Este é um disco sem numeração. Um volume neutro. Não conta muito na contagem dos discos oficiais. Nem da banda Repolho (que ainda não acabou), que insiste em ser algo que nunca foi, e muito menos na John filme (que resolveu acabar), e que se trans-metamorfose/ou em outra proposta. Mais aberta, mais abstrata, mais sensorial: Tutu Nana.

Este disco, por mais neutro que possa parecer, talvez sem importância dentro de uma cronologia discográfica, preenche espaços sensoriais com uma força incrível.  Como se a libertação fosse um sinal muito mais profundo do que simplesmente poder sair de casa. Vivenciamos o auge de uma pandemia no início de 2021, estávamos enclausurados, quando num momento de alívio imediato, Roberto decide fazer uma visita a banda John Filme, que naquela altura do campeonato estava morando em Chapecó, mas especificamente no Passo Bormannn, numa chácara. Vivendo, tocando, se escondendo da pandemia, fazendo música, fazendo desenhos aleatórios, expulsando mortos insepultos, sem tolerância ou negociações para aglomeres.

Poucas pessoas em formato restrito.

Quando Roberto chegou, o Chagas estava fritando pastel e a banda estava tocando. Roberto foi adentrando, já com a câmera na mão, fazendo seus habituais registros introdutórios e incomodativos. Sempre na expectativa de que acontecesse algo que mereceria registro. A John Filme já estava tocando algo mais aleatório quando Akira convida Roberto para tocar. Roberto vai pra bateria e Nando vai para percussão. Desse momento insólito surgiu a música “Loopzinho”. A sexta música do Ep que acabou misturada com um trecho de “Não Fui Eu” versão-reggae-nights-hits, recortada para não parecer muito prolixa. Roberto não sabia, mas enquanto ele gravava com suas câmeras portáteis, eles, a John Filme, estavam gravando tudo em áudio num programa multipistas. Depois disso, Akira disse, vamos tocar algumas músicas do Repolho e daí o Roberto pode cantar.

– Vocês sabem tocar? – Perguntou Roberto.

– Não importa! – Respondeu Akira. Não precisa saber tocar para tocar as músicas do Repolho.

E assim as coisas foram acontecendo. Ninguém tirou as músicas para que parecesse com algumas coisas pré-existentes. Elas simplesmente aconteceram. Em formato livre e espontâneo. De memória. Em lembranças, do tipo eu acho que é assim, toca desse jeito, acelera aqui que o Roberto se vira pra cantar do jeito que dá. 

24 de abril de 2021 foi um dia divertido que terminou com pizza e mais ensaios aleatórios e improvisados.

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Um tempo depois, Nando, manda os áudios de algumas das músicas recortadas desse grande ensejo / improviso musical para o Roberto. Seis faixas para ser mais exato. “Adriana”, “Musquitão”, “Não Fui Eu”, “Carla Fernanda” e “Abel e Caim”, contando nessa lista a versão reggae de “Não Fui Eu” que foi, posteriormente abandonada no processo.

O processo, no caso, veio de uma sugestão do Roberto para que se regravassem uns vocais, e se fizessem uns overdubs de alguns samplers etc, etc.  Esses “etc, etc” com a ideia de “corrigir” algumas coisas, desdobrar em outras coisas… o Jivago foi contra. Achou que as coisas deveriam ficar daquele jeito mesmo, como um retrato, cru, ocasional e despretensioso e sem a aplicação de botox. Roberto insistiu que tinham alguns ajustes leves que poderiam “valorizar” a experiência de quem vai ouvir, mas sem que se perca aquela sensação de espontaneidade do que foi vivido naquele dia. E assim, com a aceitação de todos (ou da maioria), as coisas acabaram se desdobrando em alguns arranjos diferentes para as músicas. Ensejos e possibilidades que foram surgindo quando se teve a consciência coletiva de que aquela ideia de lançar um EP, de ensaio mais cru, poderia virar um EP de ensaio cru, mas com algumas delicadezas overduabizadas, quase al dente.

Se foi um dia divertido que virou uma gravação divertida, algumas sessões de overdubs divertidos na mansão divertida da Gladis. O que fazer com isso? Com esse resultado que restou dessa diversão toda?

Fala com o Garras e lança nos streamings! Mas com o nome de que?

CAPA DO EP – JOHN FILME TOCA BANDA REPOLHO – FEAT ROBERTO PANAROTTO

John Filme toca Repolho e Roberto canta.  Sei lá, não importa. Temos esse disco, um EP com seis músicas (porque ninguém teve coragem de gritar nove, talvez doze pra virar um LP). Em breve o áudio ininterrupto do ensaio será disponibilizado. Ouçam, se possível com fone de ouvido.

Lichia para todos vocês!

FOTOS: Eduardo Chagas

SONORA 2019 – As movimentações culturais e sua importância para construção de uma cena.

Ser independente culturalmente é pensar que  as movimentações culturais acontecem e devem acontecer independente do fator financeiro, principalmente quando exercemos a ideia de uma consciência cultural coletiva. Lógico que ter dinheiro ajuda (em alguns momentos é fundamental), mas  no ano de 2019 acabei circulando em certos locais da cidade de Chapecó, e me surpreendeu o fato de como essa movimentação cultural periférica vem acontecendo independente de um centro comandando financeiramente, ditando um comportamento ou regra. Nesse sentido entendo que essas movimentações culturais que antes aconteciam muito em função desse centro, hoje se proliferam de forma silenciosa, mas nunca invisíveis, porque aos poucos o fortalecimento de um cenário proporciona visibilidade aos que se interessam por algo diferente. E esse algo diferente é o que nos interessa, é o que nos faz perceber o outro, é o que nos tira de nossa zona de conforto, é o que nos faz evoluirmos enquanto seres humanos.

Nos dias 09 e 10 de novembro de 2019 aconteceu o II Sonora Chapecó Festival Internacional de Compositoras. O evento (conforme release informativo) teve origem na “#mulherescriando”, que foi uma iniciativa da musicista Deh Mussulini para romper o imaginário de que existem poucas mulheres compositoras. Com o objetivo claro de dar visibilidade e legitimar a presença da mulher compositora no meio musical rompendo com o círculo vicioso que coloca e reconhece a mulher apenas como  intérprete, estimulando o fortalecimento no âmbito individual de cada compositora por meio da coletividade, num processo mútuo de criação e de divulgação de seus trabalhos através de shows totalmente autorais e outras atividades, como debates, oficinas e exposições.

Em Chapecó o Sonora é encabeçado pelas produtoras culturais e artistas Camila de Almeida (fotógrafa), Carla Melo e Joana Golin (do coletivo Manivas). Aprovado no Edital das Linguagens de Chapecó, o evento aconteceu em duas noites. A primeira noite de imersão e oficinas e a segunda com apresentações de música e poesia.

Acredito que a música cover é importante, mas até certo ponto. Pra mim sempre foi claro o fato de que, o que permanece no tempo e na memória das pessoas é o que fazemos e registramos de forma autoral. É muito simples perceber isso. Você lembra de uma banda cover da década de 70 em Chapecó? O que você, provavelmente lembre é do Tyto Livi. Se não fosse o compacto em vinil registrado por ele, um pioneiro da música independente no Brasil, a sua participação na história musical em Santa Catarina certamente teria desaparecido. Então, é importante compor porque compondo falamos da gente, das nossas coisas, do nosso modo de ser. Falando de nós mesmos, da nossa cultura, nos tornamos universais. Mais do que isso é importante registrar e lançar esses materiais (seja qual for o formato), porque daí eles passam a fazer parte de um imaginário coletivo. Por isso é importante o Festival Sonora, porque valoriza e abre espaços criando uma movimentação de mulheres compositoras, para que se fortaleça uma cena.

Essa é a segunda edição do evento, a primeira aconteceu com 3 atrações (Coletivo Manivas, Amanda Cadore, Eliz Bueno com a participação da baterista Bea Chagas), nessa segunda edição o salto quantitativo e qualitativo do evento foi sensacional.

A última atração da noite Marissol Mwaba (de Florianópolis) foi muito feliz ao colocar as seguintes palavras sobre isso:

“Ano passado foram três atrações e foi de suma importância que acontecesse porque só consegue crescer e melhorar aquilo que já existe. Então que bom que isso está existindo e que vocês estão aqui, fazendo com que isso exista. ”

O evento de 2019 aconteceu num hostel chamado Reserva do Ser e fica no bairro Esplanada. Além de ser o primeiro hostel de Chapecó, e possivelmente da região, o espaço vai muito além da possibilidade das pessoas transitarem em Chapecó de forma totalmente alternativa com custos mais acessíveis. O local tem uma essência cultural e aos poucos vem se tornando um espaço alternativo, onde a organização e estrutura física são baseadas na permacultura. O hostel também tem uma biblioteca para seus frequentadores e uma sala cultural para oficinas, trocas de experiência e shows. E foi nesse espaço que aconteceu o evento Sonora.

Dj Ju Dias

O inicio das atividades ficou por conta da Dj Ju Dias (que também é produtora cultural), que tem em seu repertório um variado conhecimento de música brasileira das mais diferentes vertentes. Ela ficou responsável pelos intervalos entre uma atração e outra e também pelo encerramento da noite, que acabou se estendendo muito mais do que estava planejado (como sempre).

Valeska Torres

Dando o pontapé inicial, e não poderia começar melhor, uma performance poético musical com a Valeska Torres. A artista carioca, poeta e escritora começou com um discurso forte numa declamação de poesia vigorosa, em alguns momentos de forma mais rítmica (quase RAP) utilizando-se de bases sonoras que hora faziam ruídos, hora em silêncios entre uma declamação e outra. A escritora veio para Chapecó participar do evento e aproveitou para lançar / divulgar o seu primeiro livro (editora 7 Letras).

“…a urgência de uma poesia que traduz a realidade urbana das periferias e expõe de forma nua e crua uma vivência feminina diante da violência cotidiana.”, diz o texto que apresenta o livro e que exemplifica bem o que foi a performance proferida por ela. Em certo momento, Valeska enfatizou que é recente essa incursão dela na poesia com a utilização de bases pré-gravadas que criam ambiência para as declamações. Mas parecia que ela já fazia isso há muito tempo. Uma sincronia perfeita de palavra, sons e gestos que muito mais do que encantar, esbofeteou o público presente fazendo o pensamento transitar em territórios pouco percorridos.  Não é só a poesia, é uma performance envolvente que nos suga para um espaço forte e pungente, mesmo que não estejamos prontos para isso. Quem bom e que assim seja.  

O livro pode (e deve) ser adquirido através do link:

http://www.7letras.com.br/o-coice-da-egua.html

Laura Müller e Laura Tereza

As apresentações musicais seguiram com Laura Müller e Laura Tereza, duas compositoras chapecoenses. A primeira com uma vertente mais popular romântica e a segunda apesar da pouca idade (tem apenas 16 anos), mostrou um talento incrível ao subir ao palco sozinha, encarando o público com seriedade e profissionalismo. A Laura Muller eu não conhecia, mas a Laura Tereza já tinha visto em apresentações no “Cansei, Vou Viver de Arte na Praça” (outro evento que vem se fazendo de total importância e fundamental para fomentar e promover a cultura alternativa / independente em Chapecó). Lógico que no Sonora o foco é o palco, então consegui prestar mais atenção na proposta de Laura Tereza e me encantou o seu estilo e maturidade musical. Em seguida ela chamou ao palco uma banda de apoio e se desdobrou em possibilidades apresentando um repertório maduro e eficiente. Essa foi a primeira vez que ela encarou um repertório inteiro de composições próprias. Era uma exigência do evento. Não entendo essa obrigatoriedade como uma imposição, mas sim como uma oportunidade e um elemento impulsionador. Se a artista tinha inseguranças em relação a isso, certamente o evento serviu para quebrar essas barreiras e fazer com que a evolução acontecesse em um outro patamar artístico. Outro exemplo é o da Gabriela Costa que foi a terceira atração musical, ela tocou duas músicas de sua autoria num estilo gospel, acompanhada por um violonista. Uma performance forte e marcante e mesmo em carreira recente já demonstrando sintonia com o público presente que cantava e se admirava com os universos sonoros propostos por ela.

pluralidade de estilos

Conversei com a Joana Golin sobre a pluralidade de estilos presentes no evento. Ela comentou que foi lançado um edital para que as artistas se inscrevessem. Mas não teve por parte da comissão organizadora um fator de proibisse ou determinasse que as coisas deveriam acontecer dentro de um estilo. Pelo contrário o olhar é plural e quando maior for o número de possibilidades, melhor. E esse, ao meu entender, talvez seja um dos grandes ganhos do festival, que não se restringiu a um estilo e sem preconceitos abriu espaço para outros ritmos que não se vê misturados as movimentações mais alternativas. E isso acontece muitas vezes por decisão dos próprios nichos que esses gêneros habitam e que em muitos momentos acabam por se restringir, talvez por falta de oportunidade de se confraternizar. Nesse sentido o Sonora  serve como uma via de mão dupla, para desmistificar a ideia de que as diferenças não podem conviver em harmonia. E funcionou, porque o mais legal de tudo é perceber que ali, naquela noite e naquele espaço, tudo é respeito e que o que um faz, o outro escuta, e pode até não gostar, mas contempla e valoriza.

Outro fator importante de ressaltar é como esses eventos vem se consolidando com outros tipos de opções. Porque não é só uma consciência musical é uma consciência do ser, de que as pessoas podem conviver em harmonia respeitando as diferenças em todos os sentidos. E esses eventos reúnem pessoas que respeitam a liberdade do outro, de ser de se comportar de se relacionar.   Nesses espaços as minorias se reforçam e crescem, porque sempre tem pessoas, por exemplo, com comidas alternativas, veganas ou vegetarianas, ou então oferecendo poesia e outros tipos de propostas artesanais. Tudo isso compondo um cenário mais abrangente e muito rico culturalmente e não somente musical.

Coletivo Manivas

O Coletivo Manivas merece um capítulo à parte nessa história toda. Já falei em outros momentos que aqui no oeste se via muito pouco as mulheres participando do movimento musical local. Destaco aqui as irmãs Bueno (Liza e Eliz) que participam da cena desde o final da década de noventa, permanecendo até hoje como parte integrantes de uma cena músico/cultural. Além de tocar na Epopéia a Liza participa do Grupo Vertigem (poesia) e a Eliz atualmente está em carreira solo (ano passado lançou o Ep “Eu Lírico”). Outro projeto de mulheres em Chapecó foi a banda “Dedo Médio”, nos idos de 95, posso estar enganado mas acho que ficou nisso o movimento musical com a participação feminina (cabem pesquisas). E nessa brincadeira lá se foram muitos mais de 15 anos até que aparecessem as Manivas para quebrar tudo.

Importante ressaltar que as Manivas não surgem ao acaso. Muito dessa movimentação se dá pela insistência da Joana Golin e do Isaías Alves, um casal muito agilizado que veio do Maranhão pra Chapecó em 2017 com uma intensidade muito grande e interesse em movimentar a cena cultural da cidade. O Coletivo Manivas surge a partir dos cursos de formação musical encabeçados pelos dois. E o objetivo, desde o inicio era formar um grupo coletivo de musicistas, através, de uma regra bem simples, quem participa dos cursos e tem interesse, podem, de forma espontânea entrar no grupo.

Sempre reforço a ideia de que nos tempos atuais, em momentos de transição e conflitos políticos e ideológicos, só o fato de se fazer algo cultural, mesmo que não se fale objetivamente de política, já é um ato político e de resistência. Mas as Manivas vão muito além da ideia de ser um grupo feminino, de mulheres artistas, percussionistas explorando ritmos folclóricos. Tem uma força de superação individual e coletiva, de quebra de paradigmas e preconceitos enraizados há anos em nossa sociedade. Quando falo que não tínhamos mulheres mais ativas no cenário, talvez o preconceito fosse um dos principais ativos para que isso não acontecesse. E as Manivas anulam os tabus sociais para se colocar num palco empunhando instrumentos que durante muito tempo foram vistos como instrumentos masculinizados. Se fosse só por isso, já valeria muito a pena. Estamos, sim presenciando uma grande quebra de paradigmas. Mas existe uma postura e um discurso forte que vai além das letras e da poesia. Elas se desdobram em atitudes e performances de quem não tem medo de ser mulher e falar de coisas que dizem respeito ao universo feminino. A performance é algo muito forte e marcante. E fica evidente nas apresentações que o uso do corpo e da mente se fazem presentes como uma verdadeira hecatombe cultural.

Pode parecer muito, mas não é só isso, tem a música também. Achou que eu ia esquecer?! Mas não, a música, os ritmos geram outras possibilidades que surgem a partir dessa necessidade de se conhecer, conhecer o outro, respeitar, explorar e extrapolar os limites da musica em ritmos dos mais diversos.

Venho acompanhando mais de perto (cerca de 6 meses) o trabalho delas e confesso que me surpreendo a cada momento com novas performances. Nesse show, realizado no Sonora ficou claro e impressionante como elas vem de uma crescente evolutiva em vários sentidos. Aos poucos o grupo se transformou numa potência onde as subjetividades de um discurso forte vai muito além. E ao meu ver é nesse conjunto de possibilidades que se encontram as riquezas culturais que movimentam as Manivas.

Mesmo a Joana coordenando e se fazendo mais líder, é visível a participação coletiva em diversas frentes, seja da Alice que é um vulcão de preciosidades (como diria o Plato), sempre de forma explosiva tomando conta e impulsionando tudo, a Giovanna Queiroz que com a dança chama o público para se integrar a performance destruindo os limites entre o palco e o público. Seja no background ou na organização como reforçou a Katiúscia falando da importância da Jojô como força motriz, crítica e organizadora das estruturas provocando e chamando a atenção para os detalhes. Lógico que quando destaco e cito alguns nomes, parece que uma chama mais atenção que a outra, mas não é esse o objetivo. Elas pregam uma consciência de coletividade e o show tem que acontecer sempre, independente de uma ou outra não poder participar.

Importante ressaltar que aos poucos elas estão compondo um repertorio autoral incrível e chama a atenção como este repertório funciona no show que além de divertido e dançante, certamente é político. Tudo ao mesmo tempo, o palco vira um momento de celebração da arte, da dança, da música, da poesia, da cultura, sem perder a elegância e a força política. As Manivas dizem o que tem que ser dito, se divertindo. Com sorriso no rosto e de forma contundente. Quer mais? Tem muito mais, o coletivo Manivas é infinito em possibilidades e mesmo com tudo isso que tentei descrever acima, nenhuma palavra substitui a força deste grupo. Enquanto a “homarada” (sem generalizações) se perde num discurso machista (muitas vezes reforçado por um gênero musical), relativamente pobre, as Manivas, estão aí mostrando que o mundo musical pode e deve ser diverso e muito mais rico do que se restringir a certos estereótipos.  Que seja feita a profecia do “infinito” e que as Manivas não acabem nunca.

Amanda Cadore

A Amanda bem como a última convidada da noite se conheceram no The Voice Brasil (programa musical da Rede Globo). Acredito muito nas “veredas que se bifurcam” como diria Jorge Luis Borges e se algo de bom aconteceu com a Amanda nessa participação no The Voice, foi o fato dela não ter avançado na competição. Ao meu entender o programa acaba ditando um rimo e um padrão estético musical. Muitas vezes comprometendo uma força autoral e características pessoais no jeito de fazer ou pensar a música. O fato dela não ter avançado na competição, fez com que ela não desanimasse, voltasse pra Chapeco e gravasse o seu primeiro álbum (financiado com a ajuda dos amigos e fãs) e investisse ainda mais na sua carreira. E isso, ao meu entender é muito mais significativo do que vencer ou ir adiante num programa de entretenimento musical. Ou seja, virou a página e se centrou em outra possibilidades. Outro fator interessante é que ela se cerca de pessoas desse meio musical com talento para fazer com que as suas canções cresçam e se transformem de forma muito interessante. A Amanda vem nesse sentido se destacando e conquistando cada vez mais um público que a segue em apresentações, se emocionando e cantando suas músicas.

No show Amanda e Marissol cantaram a música Abuelita Piedra repetindo o dueto registrado no disco da Amanda.

Ao final, num improviso, Amanda convidou as mulheres presentes para adentrar ao palco e cantar uma última canção. Um momento espontâneo e bonito de uma noite que ainda tinha espaço no coração para ouvir e prestigiar a Marissol. E aí nesse sentido é muito importante essa relação de carinho entre as artistas que ficaram presentes prestigiando umas os trabalhos das outras.

Marissol Mwaba

Uma doce e delicada voz, porém não menos incisiva ou contundente do que qualquer grito. O grito da Marissol é silêncio e poesia retirada dos pequenos sons, da sua origem, da infância e da convivência cultural com a sua avó. Ela reúne num pequeno espaço, tudo aquilo que é essencial para ela e aos poucos nos mostra que o essencial não precisa ser invisível aos olhos, ele pode ser presente num dia a dia onde não se tem medo nem vergonha de se mostrar quem é. Nesse sentido, Marisol conduz o show sozinha e vai aos poucos encantando os presentes. E isso é uma conquista. Uma conquista que precisa ser intensa e cada vez mais coletiva e que deve ser repetida e relembrada o tempo todo. Para não deixar com que os que se julguem donos de certas verdades nos intimidem e nos façam sentir encabulados com aquilo que nos é tão importante. E que seja essa uma essência coletiva. Materializada dia a dia a partir de nós mesmos, mas sempre em relação ao respeito que temos pelo outro. Fazendo com que a aquilo que nos pertence, que é a minha história, possa rebater e explodir em pluralidades tornando-se a nossa história. E que a nossa história seja escrita como uma sinfonia, mas uma sinfonia orgânica espontânea e repleta de sons e texturas regidas pela Marissol.

Essa noite, foi uma noite de entregas e ficou evidente isso no clima de empatia que se criou, numa noite especial de muita emoção e positividade em relação aos cenários hoje nebulosos que passam a existir devido a um tipo de rancor político / cultural que se criou nos últimos tempos e também pela forma desastrosa como as políticas culturais vem sendo tratadas. Sempre entendendo que enquanto houver iniciativas como essa, seremos sempre uma eterna resistência.

Se um dia lá atrás se idealizou uma sociedade alternativa, acredito que hoje podemos constatar indícios de que essas alternativas existem para muito além dos nossos corações. Existem de formas reais e materializadas em novas alternativas, plurais e diversificadas como o mundo deveria ser. Em universos de diálogos onde a consciência do que se discute e se compartilha é que geram os resultados e o respeito pelos mais variados tipos de visão ou diferenças de opinião. Vida longa ao Sonora.

Simplesmente efapi!

Por Roberto Panarotto

Primeiramente, obrigado pela lembrança em alguns momentos nas falas, escritas, posts e afins sobre o assunto;

Esta discussão que estamos vivendo hoje em Chapecó, em relação a cultura x efapi, é uma história que se repete a cada edição da feira. É algo que percebemos (de maneira bem espontânea, é sempre bom dizer) desde que fizemos uma música chamada “Chapecó” que, coincidentemente ou não, leva o nome de uma cidade de mesmo nome, mas que na sua essência versa sobre as percepções culturais do município. Sempre enfatizo nos shows (quando acontecem), como é triste perceber o modo como a discussão é sempre empobrecida quando somos avaliados artisticamente; e o momento que o Brasil vive é ainda mais propício pra isso;

Com a banda Repolho, por exemplo, passamos por uma situação semelhante na efapi de 2003, que foi a última vez que nos inscrevemos para tocarmos na efapi. Na época, os organizadores resolveram fazer uma (a)mostra. Ou seja, as bandas deveriam – além de toda burocracia tradicional alegando e comprovando a existência, relevância etc – se apresentar na praça para uma comissão julgadora (que no caso não conheciam a cena local). Algo totalmente estúpido e sem noção. No caso da banda Repolho, em atividade desde 1991, já tínhamos cds lançados, atuação constante no cenário local e cm repercussão, em alguns momentos, para além das fronteiras do estado, e juntamente com outras bandas da cidade estávamos a mais tempo em atividade, matérias de jornais, revistas etc.. comprovavam isso.

Resumindo, acabamos participando da tal mostra seletiva para não parecer pretencioso da nossa parte. E olha que legal, fomos desclassificados. Por que? Não recebemos sequer justificativa digna. Posteriormente descobrimos que o motivo principal da desclassificação foi o fato de tocarmos uma música que se chama “Chapecó”, que leva o nome da cidade de Chapecó e que na interpretação deles (e de outros tantos) fala mal de Chapecó. Também disseram que fomos desclassificados por chamar o público de colono (segundo fontes extraoficiais da época).

Falta de noção, de memória e de entendimento artístico é pouco para classificar as ‘organizações efapi’. Ficamos chateados (sem a hashtag que na época era conhecido por jogo da véia memo); como muitos que hoje se manifestam aqui por problemas de ordem um pouco diferente, mas tão excludentes quanto foi o nosso caso na época. Até postei um texto no meu blog na época, muito mais como um esclarecimento as pessoas que me perguntavam porque a banda não iria participar, do que propriamente como reclamação ou reivindicação.

Depois disso não nos escrevemos mais, por respeito a nós mesmos e as pessoas que curtem a banda, já que as “organizações efapi” nunca valorizaram a cultura local.

Tá, estou sendo trágico. A primeira efapi que participamos foi em 1994, tocamos na concha acústica (palco principal) numa noite dedicada as atrações locais (olha que ideia boa) e tocamos uma segunda noite num placo secundário, montado dentro de um circo, com estrutura de som, arquibancadas para o público. Lógico que nessa época também tinham as imposições burocráticas, regras estapafúrdias como por exemplo “ as bandas devem se apresentar com calça jeans e camiseta branca e não podem ter músicas que falem mal da cidade”. Mesmo isso como via de regra, fomos escalados para tocar e nos apresentamos duas vezes. Depois disso foi uma decrescente total. Na efapi seguinte aconteceu um problema aqui e outro ali, um de divulgação, um de corte do tempo da apresentação, um outro de não deixar a banda passar o som, outro do som estar ruim e mal regulado, outro do horário das apresentações locais acontecerem em horários horríveis, outros da localização do palco, o cache que sempre foi simbólico, outro da chuva, outro da hiper-mega-maxi valorização do artista de fora (por parte da organização e do público também). Tentávamos fazer o máximo com o mínimo de condições que tínhamos.  Com tudo isso entendemos que eram muuuuitos pontos negativos pra pouco retorno. Enfim, decidimos que aquilo que acontece ali não nos interessava mais, mesmo tendo feito shows bem legais, no nosso modo entender, nos anos que participamos.

Se o dinheiro não compensa, o show é cortado, o som é ruim, o horário não atrai o público… por que se inscrever numa feira que não tem intuito artístico? Nesses momento, a efapi não serve nem como a mãe que só valoriza os filhos na frente das visitas. Vagabundo, sem vergonha, salafrario, vs. olha que legal, meu filho é músico. Entendo que o posicionamento é comercial e por mais que se utilizem dos artistas pra levar público pra ver os estandes a efapi, para classe artística (em geral, no meu modo de entender, é totalmente descartável. Mas respeito quem acredita que ali possa ser uma boa opção. Nem que seja pelo dinheiro, que hoje é muito melhor (mesmo achando que é muito aquém do que poderia ser) e até entendo que essa talvez seja a única recompensa.

Quanto as mobilizações, sempre acho importante que as pessoas que se sintam ofendidas com algo, tenham o direito e a possibilidade de se manifestar, opinar etc etc. desta forma, vamos construir um cenário melhor.

Quanto as discussões que nesse momento se acaloram, também acredito que seria legal manter esse ritmo sempre e não somente em época de efapi.

Sobre as estátuas. Acho bonito estátua e com a crescente de aves da família columbidae que temos em nossa cidade, é uma forma de ter pluralidade de opções para os pombos cagarem em cima. Só lamento que se pague tanto do nosso bolso e da sofrida cultura local para bancar isso tudo.

Por hora, era isso.

Rafael Coutinho em Desenho e Narrativa (Sesc Chapecó Julho/2017)

Sempre fui um entusiasta dos quadrinhos, me aventurando em alguns momentos de realização na época dos fanzines da década de 90 e sempre em tentativas de fazer algo utilizando esse tipo de linguagem. E por mais que sempre convivi com pessoas de ilustração, quadrinhos e design, sempre digo que não consigo desenhar uma linha reta com régua.

Pois bem, eis que surge a possibilidade de participar de uma “Oficina de Criação Literária: Desenho e Narrativa” com o Rafael Coutinho em Chapecó no Sesc.  Como grande fã e admirador do seu trabalho, vi ali uma oportunidade de conhece-lo pessoalmente. Trocar uma ideia entender um pouco mais do cara por detrás dos trabalhos maravilhosos que ele nos proporciona.

Ao chegar no Sesc para inscrição, oficina esta que tinha 12 vagas, percebi que muitos dos inscritos, também não eram desenhistas. Foi engraçado, porque o João Lucas, Joel Zanette, Andre Timm e Chena, todos ligados aos fazeres artísticos, não são desenhistas. Os inscritos que sabem desenhar eram o Digo e Matheus.

Não demorou muito para que o Rafael Coutinho nos apresentasse um histórico de quadrinhos alternativos sempre exemplificando em desconstruções mirabolantes (hora simples) mas sempre provocativas de artistas que pensam os quadrinhos não necessariamente como uma narrativa linear ao qual estamos acostumados, mas numa outra perspectiva que apresenta um lado mais espontâneo e sensorial.

Num dos intervalos (ainda na primeira noite) conversei com o João Lucas e foi legal perceber que a angustia de não saber desenhar era compactuada por ele também. Relaxei e disse, que se foda, se fosse pra vir aqui pra escrever, talvez não fosse tão legal, vamos nos proporcionar algo diferente andando por terrenos obscuros.

Nas noites seguintes isso se confirmou. Estávamos em 5 desenhando e o único que sabia desenhar era o Digo. Lógico que ele foi o alvo do bulling. Bah que desenho certo, tudo bonitinho, não sabe descontruir, não saber ser espontâneo. Quedele as locurage? (num linguajar chapecoense)

E por aí foi. Uma intensa semana de atividades que iam muito além do texto e do desenho. Que se fez muito por uma relações de proximidades compartilhadas. Rafael se mostrou uma figura incrível e aos poucos todos foram se sentindo mais a vontade. Desde o primeiro dia acabávamos saindo pra jantar, beber depois ao termino da oficina. Foram cinco noites de atividades, exercícios, experimentações, conversas, troca de informações e aprendizado coletivo. Simplesmente sensacional.

Lógico que, de tudo o que foi feito ali, não saiu porra nenhuma em termos de resultado prático e nem era esse o objetivo. Mas foi legal pelos caminhos traçados, insights, ideias que revigoram avivam o olhar e estabelecem novas perspectivas.

Obrigado ao Sesc, Dani pelo carinho e atenção (menos pela internet). Obrigado ao Rafael Coutinho pela gentileza de descer os degraus do inferno e vir até Chapecó nos proporcionar um pouco da sua experiência e sabedoria. E obrigado aos novos (velhos) colegas de classe pelos momentos descontraídos de pura inspiração.

Em tempo: O Rafael Coutinho veio ate Chapecó pelo projeto Arte da palavra – rede Sesc de leituras que promove Oficina de Criação Literária gratuita.

Entrevista Banda Ojo

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Olá. Estamos aqui para apresentar para vocês, uma recém formada banda de Chapecó que está dando o que falar. Isso porque em pouco tempo eles já estão com um ep gravado, videoclipe e um contrato assinado para lançamento de do primeiro disco e de um dvd ao vivo. Realizamos um bate papo com estes jovens inspirados que nos contaram um pouco da sua vida, como surgiu a banda e sobre a repercussão da banda nas redes sociais.

Primeiramente se apresentem.

Ramon – Eu sou o Ramon, é sempre difícil falar sobre a gente. Eu toco guitarra.

Clarice. Oi eu sou a Clarice, toco violão e canto. E gostaria de dizer que estou bem emocionada de estar respondendo a nossa primeira entrevista.

Zphr – Eu toco bateria tum tum tum pá!

Como surgiu a banda?

Ramon – É sempre difícil falar sobre isso…

Clarice – Na real, estamos falando de algo que aconteceu de forma muito espontânea…

Zphr – A gente foi dar uma volta e parou pra tomar sorvete.

Clarice – Estava passando um carro de som em formato de vitrine, e a música era muito ruim, sabe aquelas locuções de rádio AM?

Ramon – Uma imagem ruim, um som ruim, mas que causou uma sensação boa.

Zphr – Quando sentimos as mesmas coisas nos tornamos necessários uns aos outros.

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Vocês já tinham tocado juntos?

Ramon – É sempre difícil falar sobre isso…

Zphr – Nunca nessa vida.

Clarice – A gente se conhecia de vista. Se via por aí… eu nem imaginava que eles tocavam…

E como vocês deram esse nome pra banda?

Ramon – É sempre difícil falar sobre isso…

Clarice – Na verdade o nome surgiu de uma piada interna. Um dia Zphr chegou dizendo que ia ficar cego e terminou dizendo que tudo dependia de um ponto de vista. Isso virou uma frase que repetíamos o tempo todo. Dai quando gravamos os primeiros ensaios precisávamos escrever algo em cima da fita e o Ramon disse: escreve olho. Parece meio idiota, mas acredito que todos os nomes de banda surgiram dessa forma.

Zéfiro – É pode ser isso… ou não… Na real tudo depende de um ponto de vista.

(Risos)

E as primeiras composições?

Ramon – É complicado falar sobre…

Clarice – Foi tão espontâneo quanto tudo o que aconteceu com a gente. Começamos ensaiar na casa de um amigo. E de forma natural as músicas foram surgindo. Eu tinha uma ideia de música, o Ramon puxou uma frase de guitarra e a gente foi juntando todas as peças. Em pouco tempo agente tinha duas músicas, mas não tinha letra.

Zphr – Eu nem sei tocar bateria.

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Como vocês decidiram que não fariam letras e chamariam algumas outras pessoas para escrever…

Ramon – É… difícil entender essas escolhas…

Clarice – Já foi tudo escrito né. O mundo está cheio de palavras por todos os lados. Achamos que o texto acaba sendo arbitrário mas ao mesmo tempo necessário. Por isso buscamos a força dos poetas para nos auxiliar, para dizer de maneira escrita o que a gente estava sentido.

Zphr – Prefiro o olhar mudo de uma forma futurista em possibilidades estéticas. Não sei o que isso significa, tá escrito na contracapa desse livro…

E como vocês veem a política em tempos de grandes transformações mundial?

Ramon – É sempre… bom, deixa pra lá…

Clarice – A arte, pelo simples fato de ser arte, já é uma postura política. Num cenário em que ninguém se mexe pra fazer nada, só o fato de estarmos fazendo algo, acabamos exercendo esse olhar político. O que nos torna plural é o jeito que encaramos tudo isso. Não preciso citar nomes e muito menos olhar de um único lado.

Ramon – A política é uma merda.

Clarice – Godard dizia – “uma pequena minoria numa linha revolucionária correta, deixa de ser uma minoria”. Acreditamos que a arte tem esse poder. O poder de evidenciar as minorias fazendo com que elas se tornem expressivas.

Zphr – Sim… é bem isso… esse filme é muito foda.

Ramon – Godard é um velho ranzinza.

O que você ouvem?

Ramon – Ah essa eu… é fácil… não, peraí… putz… sempre é difícil escolher algo.

Clarice – Música francesa, Serge Gainsbourg…

Zphr – Eu ouço o som das coisas. Isso sempre me intriga…

Ramon – Eu vejo filmes… mas sempre acho complicado escolher um… as trilhas sonoras são legais.

Clarice – Pj Harvey, Jupiter Maçã, Os Mutantes…

Zphr – Mutantes é bem melhor que os Beatles…

Ramon – E os Beatles são melhores que os Roling Stones, sei bem onde isso vai parar… em lugar algum.

Clarice – Leonard Cohen, Julee Cruise

Ramon – Carcass.

E sobre a aceitação do trabalho de vocês. Como vocês veem isso, em tão pouco tempo de existência, a banda já tem um contrato com uma gravadora?

Ramon – É sempre difícil falar sobre isso…

Clarice – Foi sensacional. A gente não esperava. A gente nunca espera nada. Estamos mais preocupados em fazer algo.

Zphr – Eu esperava. Estou sempre esperando alguma coisa.

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Além de música o que vocês gostam de fazer?

Ramon – Eu vejo filmes… mas não sei se deveria citar algum…

Clarice – Eu faço uns quadrinhos. Gosto muito de representar o dia a dia em paisagens com tinta guache.

Zphr – Eu ando de skate. E quando toco bateria é como se eu estivesse andando de skate. A sensação é a mesma.

Ramon – Eu também ando de skate, mas minha cena foi cortada do filme.

Que filme? Vocês vão lançar um filme?

Ramon – A nossa vida é um filme. Sempre tem alguém filmando, fotografando e nos observando de forma diferente. E eu acho bobagem essa história de que quando estamos perto da morte passa um filme na nossa cabeça. Vejo as pessoas dizendo isso, mas não acredito.

Clarice – Estréia dia 19 de março. Vão lá ver.

Zphr – Esse cheiro que vocês estão sentido não é meu, é do ralo.

Deixem uma mensagem final.

Ramon – Sempre desconfiem de tudo e toda vez que disserem pra vocês ir para um lado, faça o contrário.

Clarice – Beijos a todos.

Zphr – O Ramon é um velho ranzinza.

Obs: Ramon, Clarice e Zéfiro são três personagens criados por Roberto Panarotto pra o filme OJO, que conta a história de uma banda e os seus poucos respiros em momentos cotidianos importantes.

Recortes fortuitos de um encontro que possivelmente não aconteceu.

Por: Roberto Panarotto (em diálogos com Júpiter Maçã)

Jupiter - Panarotto 01Nenhuma foto, vídeo ou texto se comparam ao momento vivido. Nenhuma foto reproduz o fato e nenhum momento é tão eterno que não possa ser apagado.

E as melhores histórias?

Nunca poderão ser contadas! Talvez recuperemos o sentimento em alguns resquícios disso ou daquilo. Reinvenções. Recriações. Meras reproduções…

Por isso que é tão estranho e difícil falar de algo ou alguém, se referindo a algum fato ou alguma coisa com total precisão.  O homem em sua vã insignificância até tenta divagar ou encontrar palavras ou formas para descrever. Mas é impossível.

Começo o texto falando do abstrato. Do infinito. Depois dou meia volta, numa lógica “Mad Max 4 de concepção de roteiro” e tento escrever sobre o meu último encontro com Júpiter Maçã. Quando comecei escrevendo este texto, não sabia que seria o último. Foi na última apresentação que ele fez em Chapecó. Dois shows, um na sexta feira com a Banda Repolho e outro no sábado no teatro do SESC pelo Projeto Unocultural. esse encontro que me refiro aconteceu no sábado a tarde, momentos antes da apresentação do SESC.

Nos reunimos para falar de cinema, e o Júpiter estava num momento um pouco alterado, mas acredito, na melhor de suas faculdades: a criativa.

Refiz o texto acima, de introdução, mas procurei preservar o texto abaixo como ele foi escrito ano passado.

[11 de julho de 2015 – 16:15 min]

Começo o texto da seguinte forma:

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É sempre assim com ele, não importa onde, como ou porque a explosão se faz presente e contamina, inspira, emociona. Júpiter sempre aparece cercado de sinônimos de alguma coisa que ainda não entendemos. E talvez nunca entenderemos.

O que me parece claro é que  conversar com Júpiter é inspirador. Perceber como ele transforma uma festa junina em Nouvelle Vague ou pensa o cotidiano como se fosse um filme do Woody Allen é muito mais do que interessante. Essa definições estão presentes na sua nova incursão cinematográfica.

Tenho a  impressão que esse filme que ele está rodando, está sendo rodado há muito mais tempo. E na realidade até está. O filme acontece em sintonia única. Um instante entre uma coisa e outra, onde ele atua, seja como diretor, ator ou músico… onde tudo acaba sendo intenso. Ao mesmo tempo, a exemplo do que ele sempre fez com a música, acaba motivando e contaminando as pessoas ao seu redor, de maneira convincente e incisiva. Mesmo que você não entenda direito o que está acontecendo naquele momento, não importa. Você com certeza vai sentir algo. ele faz com que você se sinta parte daquele universo. Já diria Plato Divorak – “É impossível dizer não ao basta”. É difícil dizer não ao vício, a vida, ao silêncio… ou negar as vicissitudes da vida.  Cogitar a negação, já me parece algo insano. Não se nega Júpiter Maçã. Como não negamos o infinito. E muito menos as percepções aleatórias que isso tudo nos proporciona.

Consciência? Coincidências? Com certeza não!

A consciência do infinito criativo de Júpiter Maçã não tem a ver com o acaso.  É uma loucura plena e proprietária das faculdades mais profundas, autorais e nesse caso totalmente empíricas. Uma espécie de conhecimento nato que paga seu preço a toda hora e a todo custo, por tudo o que se faz.  Tudo acontece em fast-forward. Avançam em velocidade máxima e retornam em marcha lenta.  É nesse momento de fusão, entre uma coisa e outra, onde as imagens se encontram que descobrimos que o lúdico combina com o psicótico, intermitentemente.

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Júpiter dizia pra mim quando eu o lembrava das horas: – Esquece o show business Panarotto. Nós temos que terminar o filme. É por isso eu estou aqui, acabei de ser expulso. Me pediram férias. Eu estava num apartamento amaldiçoado convivendo com energias pesadas. Eram três horas da manhã e eu seguia obsessivamente declamando textos poéticos em alemão à luz de velas. É logico que o barulho incomoda quem quer dormir. Mas eu tenho que terminar o filme.

Uma obsessão ultrapassa todas as barreiras. Vence todos os obstáculos.

O fim, do filme?

Um plano aberto num cemitério de uma cidade do interior.

A protagonista caminha desconcertadamente e de forma aleatória, encontra o tumulo de Robert Hofmann e descobre que ele realmente está morto. Ela grita e desmaia. Créditos lentos com uma música melancólica e cadenciada.

A cena que era pra ter sido filmada em Chapecó, não foi feita. Talvez nem seja. Ficou a narrativa de um filme de duas horas em minhas memórias. Pobres memórias que com o tempo também se perderão. Tento registrar, escrever, fotografar… tentativas imuteis de prorrogar as memórias.

Síndrome de Andy Warhol? Perguntei – mas vão ser diversos curtas?

Júpiter: – Não Panarotto é o meu longa. Estou gravando, está tudo aqui nesse celular barato. Já tive um outro, que era melhor com mais capacidade, mas não importa… você vai me dizer, ah! mas e os pixels e não sei mais o que. E eu vou te responder: fodam-se os pixels! Estou editando o meu vídeo com um cara que tem síndrome de mendigo. Ele tá falando contigo e de repente, sem mais nem menos, te pede dez pilas, umas moedas ou um sanduíche.

O filme acontece o tempo todo em sua cabeça.  Tem um roteiro. Está tudo ali. Ele repete o roteiro. É mais fácil ouvir ele falando do que entender o que realmente está acontecendo pelos registros que me são apresentados e que vão confirmando as divagações.

Jupiter: Pena que não temos um piano se não poderia te mostrar a música de abertura. Se chama “Tema de Jane”.

Ele posiciona as mãos no ar e entoa solfejando nota por nota de uma belíssima composição. Melancólica, introspectiva e arrebatadora, canção que segundo ele abre o filme que está sendo feito.

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Júpiter: (interrompendo o solfejo e complementando a cena) Agora vem o título do filme: Jane’s Nightmare.

Gravamos uma cena para esse filme: no terraço do Lang Palace Cotel em Chapecó!

Eu: Aleister Crowley. A besta.

Ele: Robert Hofmann. Violinista desencarnado que fica o tempo todo tentando afinar o seu violino. Mas ele não consegue. Ele está morto, mas ainda não sabe.

Júpiter: Era pra ser Woody Allen, mas ao ver as cenas percebi que está tudo um horror, está virando um Polanski.

Eu: Quando se tenta fazer um Woody Alen e erra, vira um Polanski.

Ele ri.

Rimos.

Olho pra ele e digo:

O seu filme é uma merda! (É a introdução da nossa cena). O terraço se torna pequeno. Circulamos enlouquecidamente e verborragicamente declamando um texto que não existe. Um improviso.

Quando terminamos o improviso, olho em volta e percebo pessoas nas sacadas do edifício próximo. Talvez estejam filmando também. Talvez seja publicado no youtube como uma outra coisa. Uma outra versão, num outro ângulo de outro contexto. A história sendo contada de outra maneira.

Um plano aberto (ao ar livre) com dois respeitados senhores, num terraço, divagando sobre sentimentos aleatórios e uma possível síndrome de panico provocada por uma  piscina sem água.

__________

Paramos para rever a cena. Observamos os pixels de uns frutos recém colhidos em sistema digital precário proporcionados uma mente acesa, iluminada… talvez nem tão intacta, e nem sei se precisa. Navegar é preciso, ter a mente intacta… nem sempre é possível.  O maior entorpecente é a vida. Sem a percepção exata do que é ou foi real. Se é que ali a realidade existe. A pureza e ao mesmo tempo insanidade de uma mente inquieta em relatos de suas mais recentes experiências. Entre elas uma possível desencarnação. Tudo misturados com rituais, fantasmas, presença de espíritos em profecias de morte.

Jupiter me confidencia: Vou morrer daqui há dez anos em frente ao Dakota em Nova York, mesmo hotel que morreu o John Lennon. Um plágio de uma morte? Pode até ser, mas é o que diz na profecia. Eu vou estar lá, e vou morrer no mesmo local.

O seu novo filme já tem nome, e trilha, e todas as cenas. É um longa. Ele filma e edita tudo de maneira interessante.  a edição acontece ao vivo e em tempo real, na medida que ele vai gravando tudo com um celular. (aquele barato que é inferior ao que ele tivera antes)

Júpiter: Eu não entendo nada de tecnologia. Não sei se tem 200 megas, 300 megas… Mas não importa, o filme está acontecendo todo dentro desse celular.

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Eu: Só o celular?

Júpiter: Não Panarotto, tem imagens em high também. Vai ser uma mistura de estilos, o filme tem uma continuidade e está sendo editado por um mendigo. Ou melhor alguém que se parece com um mendigo, e que sem mais ou menos olha pra ti e pergunta: – Tu tem dez pilas pra comprar um sanduíche?

Ficamos de gravar a cena final. Seria no cemitério. Precisava de uma atriz. Ele sugere uma universitária. Com perfil de atriz amadora.

Jupiter: Porra Panarotto, você conhece as universitárias. Sabe do que eu estou falando.

Eu sempre concordando com tudo. Pensando, tentando entender… certamente aprendendo com essas possibilidades.

Não sei se essa conversa faria sentido se fosse de outra forma ou com outra pessoa. Mas é o Júpiter né.

ele olha pra mim e diz:

Ro-ber-to Pa-na-ro-tto diretor italiano. (com sotaque carregado de um possível colono inglês)

me divirto com a possibilidade e não tenho como negar a descendência. Apesar de preferir os diretores franceses (mera pretensão minha). Sei que nunca chegarei aos pés de coisa nenhuma. Nem sei se eu quero. Prefiro transitar em outros planos.

Invadimos a suíte presidencial.

Eu mais ele: ambos ouvíamos vozes.  Para mim as vozes eram reais. Para ele, espectros de algo assustador que poderia atravessar as paredes e invadir o filme.

Eu: tentando registrar tudo com dois celulares.

Ele: tentando me convencer que aqueles vultos eram reais.

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Eu: O cinema tem que ser assim mesmo. Invasivo. Furtivo eu diria, de forma intensa, se apropriando de uma cena aqui e outra ali. Roubando a realidade aqui e ali e enquadrando de forma poética. Determinando posteriormente o ritmo e o tempo de duração de cada sensação. Um tempo que urge e que nos será roubado também. A qualquer momento. A qualquer minuto. Sem que a gente perceba ou realmente queira isso. No fundo todo mundo quer… fazer cinema e ou viver o momento da tela. Os quinze minutos de intervalo entre a primeira e a segunda parte do jogo, como diria Andy Warhol. Um compacto com os melhores momentos. Lado A e Lado B. duas singelas canções que poderiam ser executadas em momentos distintos.

E o Júpiter incorpora isso em seu novo filme. Quinze minutos aqui e dez ali, cinco mais adiante, uma fala, uma pausa e uma trilha sonora. Gravado e reprocessado, estilizado, pixelizado. E tudo isso, que nesse momentos são apenas fragmentos de uma história, vai virar um longa. Editado por um mendigo.

Mas ele é um mendigo de verdade? pergunto depois de a piada ser repetida pela terceira vez.

Júpiter: Não Panarotto, ele tem síndrome de mendigo. (E ri compulsivamente).

Equipamento pra fazer filme? Conheci varias pessoas que deixaram de fazer filmes porque acreditavam não ter o equipamento certo. Isso é pros fracos. Estrutura? Cenário?  Figurino? Continuidade? Roteiro? Espera aí, roteiro tem. Ele me contou no mínimo umas duas vezes, no máximo umas dez. O roteiro pulula em sua cabeça o tempo todo. Como uma sinfonia repetitiva. Filme se faz com ideias. O restante é só detalhe. Complemento de algo que se torna necessário para levar a ideia adiante.

Sem câmera…

Não perca tempo lendo esse texto. Talvez ele não faça sentido para quem olha de fora da redoma de vidro martelado. Sim, podem ser apenas vultos, espectros de algo totalmente irreal, recém filmados e tecnologia precária.

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Não se iniba com a possibilidade do non-sense. Ele pode ser tão divertido se você se entregar ao infinito em todas as suas vertentes. Sempre que possível. Mesmo que você não esteja mais ali, e mesmo que você esteja, cada um vai contar aquilo tudo do seu jeito.

Este é um texto de ficção por mais que pareça uma crônica. Tudo aqui foi reinventado a partir de uma conversa que aconteceu, mas que talvez nunca tenha acontecido.  (obs: em ajuste  posterior, e que nunca mais se repetirá pelo menos nessa dimensão)

Ah se não fossem os registros. Um estado puro e bruto de algo que está sempre prestes a ser revelado. Mesmo que na pior imagem e na menor das resoluções. A melhor das faculdades do Jupiter Maçã é a criativa. Das artes. Do espaço. Do infinito. E nesse sentido, não se compara ao estado físico ou psicológico. Tudo ali é intenso e ele se proporciona tudo isso. Já tive muitos momentos ao seu lado. Em parcerias musicais, cinematográficas ou apenas trocando uma ideia… tomando um sorvete. E em todas elas o que vi sempre fui um ser humano extremamente gentil e criativo.

Aprendo sempre que me encontro com ele. Em alguns momentos até me esforço para entender a sua loucura. As vezes até acho que consigo, se é que isso é possível. Ou necessário.

Jane’s Nightmare

Uma possível sinopse: é um filme repleto de atores em colapso, interpretando novas maneiras de sobrecarregar apartamentos.

O que me restou: Um frame em baixa resolução com upscaling em azul sobrecarregado. Ao fundo risos em ecos intensos e distantes. Ao fundo, uma sensível melodia. Olhando de longe parecem lágrimas.

Tanks Júpiter. Love Júpiter!

Uma leitura plástica de Plástico no oriente

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Por Julherme J. Pires

Contém spoilers!

Nas últimas férias, eu estive em Ho Chi Minh City (a antiga Saigon), maior cidade do Vietnã, participando de um intercâmbio/projeto social. Eu e mais 13 intercambistas tinham como objetivo produzir um showcase do Vietnã ressaltando a cultura popular e as belezas naturais do país, sem restrição, o que encontrássemos pela frente. Trabalhávamos com diversas mídias, entre elas o audiovisual. Nós íamos em tours para outras cidades do interior do país e na volta desenvolvíamos o material. Nos primeiros dias de janeiro, após a primeira tour, realizei uma oficia de cinema com os intercambistas. Entre eles, pessoas da China, Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia, Nova Zelândia, Austrália, Itália e Brasil. Na atividade, discutimos sobre roteiro, planos fotográficos, ambiência sonora, trabalho em set…. E no final, ofereci uma proposta a eles: assistir a um filme produzido na minha cidade. Eles toparam e nós começamos a assistir “Plástico”, um filme sonoro de Roberto Panarotto e amigos.

Duas coisas interessantes precisam ser ditas sobre esses intercambistas, antes de eu comentar a exibição em si. A primeira delas é o hábito de consumo midiático deles, que não é nada diferente dos jovens brasileiros. Eles conhecem e assistem aos mesmos filmes que estão em cartaz nos nossos cinemas. Na Ásia, há claro, outras referências artísticos-culturais, mas em termos de distância midiática, estamos menos afastados do que antigamente, bem menos! A outra é que na primeira tour daquele intercâmbio, eles já haviam realizado e publicado um vídeo. Tratava-se de um “vídeo de férias”, com cortes frenéticos, trilha dançante, pessoas felizes, natureza em segundo plano. Ou seja, um filme que eu e você faríamos sem nenhuma ambição artística. Os filmes-referência que eles tinham são prioritariamente americanos, cheios de diálogo, lógicas prontas, sem muito espaço para criação subjetiva.

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Agora sim a exibição. “Plástico” é um filme sem diálogos, sem uma lógica acabada, com muito espaço para criação subjetiva. Além disso, é uma obra que tem um ritmo deslocado dos “filmes de shopping”. Achei que a exibição ia no mínimo entediá-los e o ato de ver o filme seria dividido com as telas de celulares. Mas, durante a exibição fui contrariado. Todos assistiram prestando a máxima atenção e os únicos comentários aconteceram em função das cenas. A primeira metade do filme é mais difícil, quando ainda não temos a personagem feminina. Mas nem a quase interminável cena da geladeira os tirou do foco. A cena dos iogurtes com certeza foi a mais comentada. Aquele jogo simbólico em outras camadas da linguagem mexeu com eles.

Eu tive a certeza de que aquela exibição teve repercussões posteriores quando vi a edição do vídeo da segunda tour. Logo de cara, na primeira imagem, uma referência ao plano demorado de abertura de “Plástico”, uma imagem belíssima do nascer do sol numa das baías mais belas do mundo. O vídeo é mais introspectivo e tem a interação com o mar sua principal subjetividade. Além disso, a localização de um personagem principal também se destaca, numa metáfora com uma “narrativa submersa”. A trilha também saiu da road music e entrou numa faixa mais subsidiária, juntando-se ao som da água como principal percursor sonoro. Nos vídeos seguintes, “Plástico” continuou ali presente, servindo de referência prioritária e inspirando a construção dos vídeos. O principal objetivo daqueles vídeos eram participar de um showcase que mostrasse o Vietnã de uma maneira não atrelada a Guerra. Sim, todos lembramos da guerra ao ouvir falar do país (né!?). Nesse sentido, “Plástico” participou da construção estética de uma nova visão do país.

De que plástico(a) estamos falando?

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Assisti a “Plástico” pela primeira vez na exibição de estreia no SESC de Chapecó. Me chama atenção a relação de pertencimento da obra. Assim como vemos em outras obras do Roberto, como na Repolho ou nos Irmãos Panarotto, a relação íntima com Chapecó e a criação de uma dimensão mítica da cidade. Ela acaba sendo uma personagem importante da história, porque é nela que a trama se realiza e é dela que se alimenta. O fato de o rapaz não conseguir pegar um ônibus nunca, não automaticamente deve ser levado como uma crítica ao sistema, óbvia, mas gera uma série de camadas subjetivas, em trânsito entre a dimensão personagem e o contato com a cidade. É difícil pensar num sentido comum, justamente pela natureza do filme, que como uma obra bem construída, destrói a hegemonia pronta e abre as brechas para as subjetividades do público a colonizarem.

Na terceira vez em que assisti, numa noite comum deste outubro, ainda tinham coisas para perceber e para questionar. “O que ele quer dizer com aquele peixe?”, fico pensando. Se você vincular a imagem do “peixe fora d’água” ao personagem principal, estaria fazendo um atalho de interpretação, que na minha concepção não é tão fácil assim. Uma das últimas imagens são garrafas de plástico descendo o rio. Por que elas estão no rio, enquanto o peixe está fora dele, sofrendo? Talvez uma análise semiótica leve a alguns resultados, mas não acho que é na ciência que esse filme se ofereça para análise. Sim, na nossa própria relação com ele e com a cidade.

O tal filme sonoro

A trilha musical e a relação dos quadros com os ruídos (noise) são aberturas para se pensar no que ali está se passando. Na cena dos iogurtes, o vazio sonoro na atmosfera projeta uma cena completamente vazia. Mas é na música que o cômico acontece. Se antes, na cena do leite, temos uma trilha viva e alegre, agora temos um aspecto circense. Apesar de a ênfase discursiva estar no som, os elementos visuais são indispensáveis. E por isso, a minha cena favorita é a dos iogurtes. Esta que já e a segunda cena de sexo do filme(!). Até àquela altura, o desenvolvimento afetivo do casal estava em crescimento. Esta é a primeira vez em conflito. Desta vez, ouvimos (e vemos) a superação do amor, o desgaste do relacionamento. O ato do consumo do iogurte numa marcha muito lenta, como dimensão do tempo em análise, pode nos levar a pensar sobre isso.

Estas leituras do filme são possíveis por sua abertura e pelo não acabamento narrativo. Justamente por não encontrar um produto pronto e que tivesse essa relação artística com Chapecó, propus ao próprio Roberto essa possibilidade de exportar o filme. Lembro muito bem como ele foi recebido e apropriado por aquelas pessoas de diversos países. A conversa e os insights que rendeu. A cada vez que assisto o filme, novos sentidos são acrescentados a minha percepção. Não de uma forma sedimentada, mas muito mais de uma forma plástica, que é simplesmente corroída pelo tempo e pelo espaço.

Os vídeos produzidos no Vietnã a que me referi podem ser assistidos aqui:

https://www.youtube.com/channel/UC61_YlRV3tZDYvLCbAL12lQ/feed

Domingo no Parque: Um mosaico de imagens mil.

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Por: Roberto Panarotto

Quando fui convidado para participar do evento, confesso que fiquei apreensivo. Não tinha mais ido a Porto Alegre depois da morte do Flávio, uma situação ainda recente. Não tinha caído a ficha, de que em termos físicos não veríamos mais um show, não poderíamos dar uma volta no parque, trocar uma ideia. Acabei aceitando o convite pelo fato de ser o Ray-z um dos organizadores. Que além de músico, parceiro, produtor e amigo sempre foi um grande admirador da obra do Júpiter. Me fazer presente, representando a colonada roqueira do oeste catarinense, seria legal em contrapartida a todo o carinho que o Júpiter sempre teve com Chapecó, realizando diversos shows em vários momentos e nos mais variados estados de espírito desde 1995 (ano da primeira apresentação na cidade em carreira solo, ates disso ele já havia se apresentado com os Cascavelletes). Cada um dos shows foram marcantes e com características peculiares.  Pelos meus cálculos, foram 12 apresentações, trazendo sempre o seu olhar diferenciado e único em performances memoráveis. Algumas delas circulam na internet. Esse show de 1995 com a formação dos Irmãos Caruso que em seguida gravariam o Sétima efervescência e o show de 1997 (com o Marcelo Gross e Júlio Cascaes) estão presentes no inicio do filme Pescando Júpiter segundo Huxley, tem também uma apresentação semiacústica que virou um bootleg compartilhado nas redes. Enfim…

Fomos convidados (eu mais o Demétrio que acabou não podendo ir) uns quarenta dias antes. Aceitei participar, defini a música que iria cantar e fui me desligando aos poucos. Na última semana mesmo, quando começaram a sair as divulgações que me toquei de quão grande essa ideia havia se transformado. Ali que eu constatei a lista de pessoas que estariam reunidas, que seria no Araújo Vianna… pensei, no mínimo vai ser emocionante.

A Efervescente mente de Júpiter Maçã

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É Impressionante ver essa galera toda reunida, num excelente clima em performances únicas e memoráveis. Muitas histórias, rolando nos bastidores. Muitas ideias trocadas e todos relembrando os momentos ao lado do Júpiter. Era impossível não sentir a sua presença ali. Até porque tudo isso e todo esse universo artístico durante muito tempo girou em torno da loucura que ele fez se materializar numa obra impar na história da música mundial. No repertório 27 grandes clássicos de quase todas as fases. Impressionante é ver a força de cada uma das canções, formando um repertório de hits que poderiam ter conquistado o mundo (pois bem, estão nos discos e quem sabe um dia vai.

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A sequencia do set list foi essa. Cada um tem o seu melhor momento. Mas vou citar alguns.

A base musical da noite ficou a cargo do Império da Lã. Sempre quis ver eles em ação e tive a oportunidade de ver bem de perto e de fazer parte cantando As Mesmas Coi… er.. Pictures and Paintings (que tem 3 estrofes e não 4). Liderados pelo maestro Carlinhos, eles foram fazendo a festa acontecer de forma sensacional. A presença do Carlinhos como anfitrião é algo sempre foda em termos performáticos. De maneira insana e verborrágica ele consegue prender a atenção do público mostrando porque é um dos grandes (estou falando do peso da alma, só pra deixar claro) artistas gaúchos da atualidade (seja a frente da Bidê ou Balde, Império da Lã, escrevendo ou apresentando um programa de televisão). As celebrações iniciaram com uma fala emocionada que dizia: Nós somos o Império da Lã, nós somos maiores que o império Bizantino  nós somos maiores que o império da Grã-Bretanha, somos maiores que o império Otomano… nós somos maiores que todos os impérios que vocês conseguiram estudar no colégio, nos só não somos maiores do que Júpiter Maçã! Em seguida abriram os trabalhos com “As tortas e as Cucas”. De arrepiar.

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O segundo convidado da noite foi o Wander Wildner. Que sempre é importante registrar e constatar: o que é a empatia e a presença de palco desse cidadão punk-brega-portoalegrense do mundo? Em palco ele se transforma num monstro. Uma coisa além de tudo o que podemos compreender. Se o Júpiter tinha esse carisma e empatia com o público, ninguém melhor que o Wander para abrir a lista de convidados e ditar o ritmo das emoções. Só me fez lembrar porque sou fã dele. Foi o momento que o público levantou, e dali pra frente ninguém sentaria mais.

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Na sequencia foi a vez de reunir os Cascavelletes e o TNT, ou pelo menos uma boa parte dele. Márcio Petraco, Luís Henrique “Tche” Gomes e o Nei Wan Sória acompanhados pelo outro lado dessa história toda, o Cabelo da banda Identidade e também pelo Pedro Petraco na bateria e o Leonardo Boff nos teclados. Como é bonito ver as gerações se encontrando no palco e dessa forma. No caso do Petraco, estava ao seu lado na lateral do palco e ele apontou para o filho tocando bateria, todo orgulhoso, olha ali, é o meu filho (falou algo do tipo, como se eu não soubesse). Dai completou. Não sabe nada de rock and roll. Eu falei de forma irônica, sim sim tem que aprender muito ainda…

Nei Wan Sória já entrou em campo com o jogo ganho. E fez jus ao que se esperava dele. Ao cantar “Lobo da Estepe” trouxe uma cadeira ao palco. Representando o espaço que outrora foi ocupado pela presença física e voz do Flavio Basso. E teve gente que jurou que viu ele ali. E estava né, como ele poderia deixar de estar presente nessa festa bonita. Nei acompanhado do Império da Lã e com a presença do Cokeyne Bluesman ainda tocou “Sob um Céu de Blues”. Só alegrias e emoções e a festa estava só começando

Frank Jorge contou a história de uma música: “Estava ali em 86 fazendo o tal do curso de pré-vestibular. quando fui mostrar pra minha mãe, dona Marlene (a música recém composta). Mãe eu fiz essa música com o cara que é da família Basso que mora também aqui na Thomas Flores. E como que é a música meu filho? É mais ou menos assim… e Araújo inteiro entoou em uníssono a introdução: menstuaaaaaada,  tá menstuaaaaaada,  menstuaaaaaada…

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Marcelo Gross e Júlio Cascaes, a dupla que formou com o Júpiter o melhor power trio que já vi ao vivo, numa apresentação impecável tocaram o Novo Namorado. Nessa música o Gross cantou e tocou guitarra, mas em seguida assumiu as baquetas, sempre reforçando, como é legal ver o Gross tocando bateria.

Beatle George trouxe ao palco Lúcio Vassarat nas citaras e Ray-z para engrandecer este grande time futebolístico que atende pela alcunha de Bidê ou Balde. Todo charme e elegância de uma banda que tem em seu elenco de grandes estrelas, Vivi, Sá e Pila (do Carlinhos, já puxei o saco antes, mais precisamente no quarto paragrafo desse texto) e que ao vivo mostra muito mais do que uma estética impecável, performances únicas e memoráveis.  Um pouco depois a Bidê se transformou num time supersônico, muito melhor que o Barcelona ou a seleção holandesa de 1974, com Gross na Bateria e Frank Jorge nos Teclados.

Quando Bibiana Graeff entoou as primeiras notas do seu acordeom em   Mademoiselle Marchand uma lágrima escorreu. Acompanhada pela Joana Ceccato encantaram os presentes num momento lindo e intimista.

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Edgard Scandurra com a Silvia Tape apresentaram uma belíssima versão de Welcome to the Shade, depois cantaram Miss Lexotan. Scandurra numa elegância e sabedoria interrompeu a música e disse, “desculpa gente, eu fiz uma pequena troca (na letra) essa musica é maravilhosa e vale a pena começar de novo”. O público aplaudiu em êxtase.

Foi um desfile de celebridades do rock gaúcho em momentos lindos. Um mais lindo que o outro.O evento durou mais de duas horas e o público que lotou o Araújo não arredou pé. Depois disso tudo ainda teve o Clayton (baterista do Cidadão Instigado) que participou em diversos momentos (na carreira do Júpiter e no show), destacaria aqui a versão de “Exactly” que ficou muito foda, fazendo jus aos momentos mais insanos da carreira do Júpiter.  Rafael Malenotti, Duda Calvin e Luciano Albo, retomaram os momentos Cascavelletes, aí não me segurei mais, já estava empolgado na lateral do palco cantando tudo, pensei, daqui há pouco vão me tirar daqui, olhei pra traz e estava todo mundo cantando ou dançando, olhei pro público e o clima de celebração era intenso. Dali pro final, foi só alegria onde todos foram chamados ao palco para um final apoteótico pra cantar a Marchinha Psicótica regida pelo General Bonimores e Império da Lã.

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E tu acha que parou aí? Capaz, ainda tinha o Egisto Dal Santo que encabeçou mais uma vez Lugar do Caralho (que poderia ter sido tocada a cada duas musica que o público ia cantar aplaudir e se emocionar do mesmo jeito). Com espírito “rockeiromacacovéio’, entendeu o momento e a vibe da ocasião e como bônus puxou Essência Interior colocando a cereja final do Bolo.

Importante aqui, registrar a presença sempre discreta do anfitrião Ray-z, o cara que conciliou tudo isso. Acredito que essa união só aconteceu em função da pessoa querida que é o Ray e pela forma com que todo o processo foi conduzido.

Também senti falta de algumas pessoas, várias diga-se de passagem, pessoas que estiveram presentes na vida do Flávio e que somariam ainda mais esse grande elenco estelar que sempre circundou no universo Maçã. Se todo mundo participasse, daria pra fazer um show da virada, com 24 horas ininterruptas de rockjupiteriano. O que é legal é que possivelmente poderá rolar um segundo, um terceiro e assim por diante… enfim…

Lógico que voltei pra Chapecó extasiado e pensativo em relação a isso tudo. Importante perceber e entender como Júpiter faz falta. Interessante foi estar lá  e poder constatar como essa galera toda tinha um envolvimento com ele. Em muitos momentos deu um nó na garganta. Em diversos momento foi foda olhar pro palco e ouvir aquilo tudo, todo um universo de percepções que muitas vezes foram além da nossa compreensão em termos estéticos, musicais etc. Entender nesse contexto, que tudo isso formava um mosaico único e intenso, perceber a força de um repertório sensacional, complexo e popular, intenso e criativo, cult e pop ao mesmo tempo. Também lembrar que o Flavio não estava mais ali para poder desfrutar de tudo isso que ele criou. Se for pensar, durou pouco, poderia ter durado muito mais, mas foi intenso e mexeu com a cabeça de muitas pessoas. Entendendo que a morte é necessária, aceitamos tudo isso como uma grande celebração de uma obra que em 2020 vai virar hit nacional.  Só me resta dizer que fiquei com uma sensação boa de uma saudade que não tem limites.

Até o Thomas Dreher foi no evento e após, escreveu a melhor de todas as percepções, por isso copio em citação:

“Sobre a memorável tarde de ontem: Foi um dos eventos mais inspiradores realizado nos últimos tempos. O show foi de alta qualidade. O repertório composto de todas as fases da carreira do Flávio. O que mais me impressionou foi como todos os participantes estavam na mesma vibe. Muitos não se viam a muito tempo. Estava rolando um verdadeiro espírito de amizade. Todo mundo unido. Todo mundo em festa. O Araújo Viana estava lotado de pessoas emocionadas e enlouquecidas. Rest forever here in our hearts, Jupiter.”

Ainda em tempo:

Imbróglio 1. Cheguei para cantar a música “As Mesmas Coisas”. Era o que eu tinha combinado, e por algum detalhe que passou despercebido da produção foi mudada a música, só que não me avisaram. Cheguei pra fazer uma coisa e tinha que pensar outra na hora. A sorte que eu sempre fiz parte da banda Repolho que me proporcionou inúmeros momentos como esse. Onde tudo o que era planejado não se concretizava ou acontecia de forma catastrófica, e o que se mudava na hora acabava ficando melhor. Se ia dar certo ter cantado “As Mesmas Coisas” eu não sei, mas achei legal a música que escolheram pra mim cantar e me escabelar… Pictures and Paintings acabou sendo muito bacana.

Imbróglio 2. Sempre reforçando a minha teimosia de não músico praticante,  na passagem de som rolou uma discussão minha contra todos os músicos do Império da Lã. Eu dizendo que tinha 4 partes a música e eles (todos) dizendo que tinha 3. Acabei convencendo eles de que tinha 4, daí fomos ouvir e tinha 3. Ainda nessa de não dar o braço a torcer, disse, mas então foi o Júpiter que gravou errado.

Love Júpiter!

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Morrostock 2015 – O quinto dos infernos é aqui!

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Por: Roberto Panarotto

Todas as vivências se perdem no escuro das palavras mal escritas. Nenhuma lanterna de celular é suficientemente suficiente para capturar o brilho da noite com chuva. Nenhum espaço é suficientemente pequeno que não caibam muitas pessoas compartilhando as mesmas loucuras. Nem foto, nem filmagem reproduzem a realidade enlameada que vivemos no Morrostock 2015.

Não tem como, mas a minha burrice crônica insiste e eu vou tentar relatar o que aconteceu.

A lógica: Festival de loucos. Os loucos que por um motivo ou outro não fazem parte da família brasileira. Ninguém quer esse tipo de gente por perto.

O Demétrio, que foi com o com Leandro “benga” Blessman e o Diego Dourado até o evento, contam que ao chegar em Capela de Santana avistaram luzes, música e uma festa acontecendo, resolveram parar pra pedir informação e ver se era ali o festival.

A mulher de maneira enfática respondeu fazendo o sinal da cruz: Aqui é a festa da família a outra é a festa dos sem família e a gente não sabe onde fica.

Com isso dá pra entender que estávamos indo pro inferno. Segundo ponto de vista das senhoras carolas numa festa religiosa, num feriado religioso, encostadas na cruz e chamando os outros de violento.

O local: Que precisou mudar de residência e a galera até pergunta: Mas por quê?

Simples, quem manda na cidade, não quer. E como quem manda nas cidades faz parte da tradicional “família brasileira”, é mais simples ainda, “família brasileira” não quer pessoas com ideias e costumes diferentes. Alguém aí quer colocar o inferno (aquele das veinhas corolas) próximo da sua residência?

Não né, ninguém quer.

E Sapiranga não quis. Ano anterior deu treta com a polícia (no outro possivelmente também). Dessa vez a prefeitura não autorizou. Eles sacaram que sem autorização ia baixar a polícia; a polícia que quando se faz presente, se faz – cada vez mais – intolerante com as diferenças. (Talvez devesse ter antropologia nos curso de formação policial. Mas só um palpite mesmo. Não quero me meter muito.)

Onde arranjaram refúgio?

Numa chácara/camping – Balneário Idone, em Capela de Santana/RS, Estrada Sanga Funda, 7780, Bairro Assentamento São José – uma área de um assentamento. Onde as relações acontecem de outro modo, em que a ideia de “comunidade” e de ecologia é mais forte. Um brinde a contracultura. As pessoas do centro, das famílias, não gostam né, mas tem que engolir.

Assim, independente de quem pode e de quem não pode ir ao evento, tem um convidado que não se proíbe. A chuva. Ninguém segura. Sempre entra onde quer ou não quer. A natureza é soberana. O quê? Esse bando de loucos reunidos aqui? Um pouco mais de chuva pra aumentar a diversão.

E Choveu. Choveu pra burro, e muito… e chove em Porto Alegre. A maior de todas as chuvas dos últimos não seis quantos anos.

A gente já sabia antes de ir. Somos colonos cibernéticos e utilizamos aplicativos meteorológicos nas enxadas.  Fomos, meio que, preparado para isso tudo. Talvez nem tanto. Por mais que você se organize e se prepare espiritualmente, não tem como se preparar para um motorista que não sabia o local do evento. Ele girou, girou até que a gente ia mais pra cá e depois voltava, depois ia de novo e girava em círculos, e de tentativa em tentativa, o que era divertido virou atraso e o que era engraçado começou ficar preocupante. Imagina, quatro bandas num micro-ônibus: Banda Repolho, Cartolas, Identidade e o Terno. E ninguém sabia onde era.

Certa altura do campeonato, levanta o Tim, da banda o Terno, e diz: o motorista passou o local da entrada. Era pra ter dobrado ali atrás! Acho que todo mundo ficou meio assim, mas o que custava deixar ele que é paulista guiar o motora gaúcho.

E ele estava certo, tinha que dobrar a direita, voltamos; daí na volta era a esquerda e acabamos indo pro lugar certo. De certeza mesmo é que o motorista não sabia aonde estava indo. Literalmente.

Quando na primeira derrapada, ele disse: Não vai. Não vou, vocês tão ficando louco, tenho que levar uma excursão pra Gramado amanhã de manhã bem cedo com esse micro-ônibus. É, ele não tinha ideia de onde tinha se enfiado.

Liga pra produção. E vem um trator.

– What?

– Isso mesmo, um trator!

Se a gente que já está acostumado se assustou. Imagina as outras bandas.

Daí vem o Paulo Zé – organizador e idealizador do evento -, não conhecia ele, (só de nome) mas já chegou pilhado e bestemando. E a primeira impressão foi: Ele é brabo; é mais do que isso, é aguerrido. E tem que ser né, pra fazer tudo isso funcionar, juntar esse bando de louco e criar uma (des)ordem pra isso tudo, tem que ser né.

Daí ele para do meu lado e pra tranquilizar o povo, diz:

– Galera, fica tranquila que está no tempo certo e a próxima banda é a Repolho e eles já estão lá prontos pra subir no palco.

E eu, do lado dele, pensei comigo, que bom né. A gente não precisa se preocupar, está tudo sob controle, porque o Repolho já vai entrar no palco.

Cutuquei ele e disse: Três dos integrantes do Repolho estão aqui e apontei pro Anderson e pro Akira. Mas não dá nada, avisa o Demétrio pra subir no palco e ir tocando “oh Regui” (música do nosso segundo disco que é um reggae) que a gente já chega lá e dá sequência no baile.

E o Paulo Zé: mas então vocês tem prioridade.

Me senti um véio de 180 anos em fila de caixa especial na lotérica pra paga uns boleto.

Acabamos pegando carona com o Teclas, tecladista da banda Identidade, ele estava de carro e foi muito gente fina, se sujeitou a levar a gente até quase a entrada do evento. Ou até onde o carro conseguiu passar. O restante tivemos que ir a pé mesmo. E o trajeto foi bonito e divertido, no escuro e patinando na lama. Até tentava encontrar um local que fosse terra firme, mas não dava pra ver nada. Nem a floresta e muito menos os duendes, os doentes da cabeça eu avistei quando nos aproximávamos do local dos shows. Uma galera reunida e se divertindo muito. Uma clima excelente.

Chegamos no camarim (coletivo), um espaço pequeno atrás do palco. E a folia rolava solta e a gente não sabia direito o que estava acontecendo e nem onde estava. Não deu tempo pra identificar o território, cumprimentar as pessoas, pois precisava subir ao palco: já fui trocando de roupa, olhei, tinha duas meninas fumando e no canto um anão (pensei que o David Lynch poderia estar por perto, mas depois fiquei sabendo que não tava ficando loco, que era o pessoal da banda que havia se apresentado antes – NADDO entre gigantes). E foi assim que a gente subiu ao palco. Sem ter tempo de conhecer as pessoas direito ou ter noção do que estava rolando.

O show foi aquela coisa de sempre. Chega num local desconhecido, tu acha que ninguém vai dar bola. Mas o público estava empolgado e reagiu bem. O som estava muito legal e toda a equipe técnica muito atenciosa pra fazer com que a coisa toda funcionasse. Contamos com a participação especial do poeta (e estilista) Diego Dourado, que fez a roupa do Demétrio, e do Leandro Blessmann, grande amigo e compositor da Benga Music.

E assim foi. Depois de tocar tudo fica mais tranquilo, dai pudemos conferir o show do Cartolas, Identidade e o Terno. Tudo muito divertido. As outras bandas muito guerreiras e disponíveis. baita shows.

E pra sair dali? Sim, outra empreitada.

Sobe todo mundo no trator.

Só pra explicar: pra chegar ou sair dali, ou a pé patinando ou de trator. Como a gente tinha que levar os equipamentos, o trator puxava uma carretinha com proteção na parte da frente e traseira. Os instrumentos foram colocados ao centro e as bandas iam: ou sentadas em volta com os pés pra fora da carretinha, ou em pé apoiadas nas barras, ou então em volta do trator.

Coisa linda de ver, aquelas 4 bandas indo em direção ao nada. Uma escuridão total. E assim retornamos para o micro-ônibus para retornar pra Porto Alegre.

Gostaria de deixar aqui registrado o agradecimento as bandas Identidade, Terno e Cartolas, pela parceria, e em especial ao Júlio Sasquat, que emprestou o pedal de bateria pro Anderson, ao Teclas pela Carona, e lógico, um mais que especial agradecimento ao Lucas Hanke (Cabelo) e ao Paulo Zé pelo convite. Que venham os próximos convites. Só o convite, porque da próxima vez não sei se vou. Tô véio demais pra andar de trator no sereno. He he he… E Vida longa ao Morrostock!