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É Chapecó! É Chapecó! – Banda Repolho (1987 – 2017). (atualizado, ou quase isso)

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A música de “Chapecó” da banda Repolho é um RAP, e foi composta em 1986/87, muito antes de pensarmos em ter banda. Foi uma composição inspirada no movimento de rap nacional que surgia na estação São Bento em São Paulo. Eram os primeiros indícios do movimento Rap, (Mcs, D-jays, b-boys, grafite, etc) no Brasil. Vi por um acaso uma reportagem num programa na tv e que eu acho que se chamava “Comando da Madrugada” que passava no sábado de madrugada. Na época eu não tinha videocassete e gravava os programas da Tv  em fita cassete com um walkmen de fita. Quando o Demétrio chegou em casa, mostrei o programa pra ele. Aquele universo parecia muito interessante e nós (sabe se lá porque) nos identificamos com aquilo. Algo tão distante, tão fora da nossa realidade, um lance rítmico da batida do beat box, mas também de um movimento, de uma periferia que se fazia pulsante pela arte. Dois dias depois o Demétrio (que já era metido a compositor, dessa época tem também a música “Abixornado” e “Diva a Gata Primitiva”) veio com a letra da música pronta.

Versão ao vivo – show de Lançamento do primeiro cd da Banda Repolho – 1997 na Republica CRC. Com a Participação de Fernando Strezelecki e Dj William.

Em 1989, gravamos “Chapecó” para um programa de rádio na Oeste Capital que abria espaço na programação, para o público ir fazer um especial de uma hora. Através dos amigos Billy Boca e Claiton Vogel, fomos lá pra fazer a bagunça. Gravei a música em casa com uma base de Rap sampleado de um disco de vinil,  em um sistema caseiro no meu aparelho de som 3X1 com um microfone de karaokê. A música tocou as sete da noite e durante o restante da noite, tinham pessoas ligando pra rádio pedindo a música. Nesse mesmo programa, anunciamos a música de Chapecó como se fosse autoria de uma tal “banda Repolho”, mesmo sem que a banda Repolho existisse, brincando com as bandas locais da época, em especial na banda do Seno, que se chamavam “A Face”.

A banda surgiu em definitivo em 1991 e a partir dali a música sempre esteve no repertório, mesmo quando tocávamos fora de Chapecó. Era engraçado como as pessoas reagiam e de certa forma ainda reagem. Tocamos em abril de 2015 no Rio de Janeiro e foi engraçado ver o público gritando o refrão “é Chapecó!”. Acredito que seja um movimento inverso ao que aconteceu com a gente quando ouvimos o Rap a primeira vez. Enfim…

Quando começamos a distribuir as primeiras fitas demo com a música, recebíamos como respostas, coisas do tipo: “que sensacional, cantamos a música aqui na minha cidade e só mudamos o refrão/nome Chapecó, pelo nome da nossa cidade”. Os problemas eram os mesmos, não importava onde se estava. nessas percepções que começamos a entender uma lógica de que o Brasil é um grande interior e que os problemas, mesmo geograficamente diferentes, são os mesmos (ou muito parecidos) e mais do que isso refletem essa deficiência cultural. Quando a gente tocava fora da cidade, era curioso, éramos conhecidos como a “Banda Repolho de Chapecó”, Chapecó era quase um sobrenome da banda. A música em questão, tocava nas rádios em Porto Alegre (em 1994-1995) e as pessoas eventualmente pediam pra gente tocar no show. Teve uma vez que conseguimos uns brindes do Frigorifico Chapecó (camiseta e boné) somente escrito Chapecó (que era a logo da empresa na época). A gente ia tocar uniformizados com a camiseta e boné da cidade. Imagina os quatro integrantes andando em Porto Alegre, parecia uma boy-band colona. Nem chamava a atenção. E quando não estávamos com a camiseta do frigorífico, íamos (mais o Anderson que sempre foi fanático pelo Verdão – nas duas modalidades) com a camiseta da Chapecoense que também tinha a marca do Frigorifico Chapecó. Era bonito do mesmo jeito.

E apesar das pessoas acharem que estamos falando mal de Chapecó na referida música,  não concordamos com essa alegação. Na realidade a música é, e sempre foi uma crítica adolescente de um momento da cidade. Um retrato de uma época, em que as pessoas faziam “pega” de carro no “Xorna”, ou se reuniam no calçadão da cidade pra ficar se olhando com cara de bocó. Tudo é muito pontual e reflete essa questão voltada a uma insignificância cultural de um determinado período. Tudo na música fala de comportamento e de falta de perspectivas de uma juventude que talvez quisesse algo mais.

A primeira vez que a banda apareceu para o grande público foi no Jornal do Almoço – RBS, num especial de aniversário da cidade de Chapecó ao vivo para todo o estado de Santa Catarina. A gente recém tinha aparecido me nível nacional, numa matéria da Revista Bizz (principal revista de musica e rock da época). E as pessoas não conheciam a banda localmente. Mas tinha essa lógica de que, se saiu na revista e se estão falando da banda é bom. A gente, naquela de não causar confusão, mas se divertido, convidou o pessoal que organizava o Jornal do Almoço na época pra ir ver um ensaio da banda. Ninguém apareceu. No dia do evento chegamos às 8 horas da manhã para passar o som. Na época estávamos numa transição de baixista e o Júlio Mendes não sabia ainda o repertório da banda. Optamos pela música que estava mais alinhada, no caso: “Chapecó”. Foi muito engraçado. Sabe aquela sensação de que você está num lugar e todo mundo te olhando, apontando com o dedo e tem a nítida certeza de que estão falando mal de ti. Foi o que aconteceu. Enquanto a gente tocava a música na passagem de som, uma movimentação estranha acontecia em frente ao palco. Ia um daqui, voltava um não sei o que dali (não sei os cargos etc). Descemos do palco, recolhemos os instrumentos e estávamos indo embora quando fomos abordados pela organização dizendo que a gente não podia tocar aquela música e que era evento de aniversário da cidade e não sei mais o que. Tudo bem, a gente foi lá e passou /ensaiou outra música. Depois ficamos sabendo que houveram discussões mais acirradas provocadas pela nossa ingenuidade pueril. E que se na hora do “vamo vê”, entrando ao vivo para todo estado a gente tivesse tocado a música de Chapecó, metade da RBS ia pra rua (salve exageros de expressão). A gente pra não causar confusão, mudou a música, mas não adiantou muito. porque ninguém conhecia a banda e eles não sabiam que a gente tocava com figurinos (exclusivos e especiais). E isso foi um outro impacto. Refletiu muito negativamente. Tiraram a gente para baderneiros, arruaceiros e por aí vai. Ficamos com esse estigma por um longo período. Lembro que sempre vinha alguém dizer que no colégio, determinada professora falava mal da gente. Pais de amigos ficaram indignados, porque ninguém sabia a certo que estava sob os figurinos. Até na igreja fomos citados num sermão de como não se comportar perante o estado todo. A gente, lógico se divertia.

A coisa durou tanto que quase um ano depois desse evento do aniversário, na primeira Efapi que participamos, em 1994, tinha uma cláusula no contrato que dizia que as bandas locais não podiam falar mal da cidade e que deveríamos tocar de calça jeans e camiseta branca. A gente se divertia com toda a atenção que, acreditávamos era destisnada pra gente.

Banda Repolho – Chapecó – (Versão oficial) Repolho Vol. 1

Quando lançamos oficialmente o disco Repolho Vol 1 – em 1997 a música voltou a tocar na rádio e a reação continuou engraçada. As pessoas ligavam pra rádio dizendo que se a gente não estivesse contente, tinha que ir embora da cidade, onde já se viu falar desse jeito de Chapecó.

Um tempo depois fomos “censurados” numa pré-seletiva de bandas da Efapi (de 2004 – se eu não me engano). na época a gente ja tinha discos lançado e tudo mais, mas aceitamos tocar num palco montado em frente igreja, para um comissão que escolheria quais bandas tocariam no evento. e foi nessa situação que a comissão julgadora descobriu a música de Chapecó e um outra que entoava em grito tribal funk, “Colono, colono, co-co-colono semo tudo uns colono!”. Rápidos e implacáveis em suas observações fora de contexto e pecaminosas. Ficamos de fora da maior feira agropecuária do sul do mundo e ainda ouvimos algo do tipo: e ainda por cima tem uma música que chama todo mundo de colono (se referindo ao Charme de Cachorro – outra composição da banda). Olha que coisa mais re-dí-cu-la. Mas a gente continuou achando engraçado. Era sempre assim independente de ir ou vir, a gente se divertia. Ainda mais nesse caso, usar como argumento uma música que foi feita 20 anos antes, sendo “censurada” em pleno exercício da liberdade de expressão e artística. Merecia no mínimo um estudo antropológico pra explicar. O interessante é que, até a Efapi acabou, mas a música de Chapecó está por aí e os problemas culturais também.

Já pensamos em tirar a música do repertório em diversos momentos, mas a real é que, dada as devidas circunstâncias percebemos que ela continua atual. Infelizmente vivemos um momento de intolerância, onde as pessoas pra se auto afirmar, procuram a todo custo eliminar as diferenças. Sem respeito com o próximo ou as minorias, diferenças de opiniões, de raça, politica ou sexual. Entendemos que a gente cresce/evolui como seres humanos nessas mesmas diferenças e que elas não podem ser eliminadas independente de sermos a favor ou não. Os pontos de vistas contrários servem para que possamos entender o quão insignificantes somos em relação ao todo. Mas infelizmente a gente vê um aumento dessa intolerância, agressividade e violência, contra o “diferente” que luta, muitas vez para ser igual ou apenas ser reconhecido. E isso tudo pra gente continua sendo um problema cultural. Mesmo que a letra não aborde necessariamente isso de maneira pontual ou factual, continua refletindo a nossa pobreza de espirito.  Como a música de Chapecó fala disso, de questões culturais e (não necessariamente é contraria a “fulanos” e “beltranos” partidos A, B, C ou em recuperação, entidades ou grandes corporações) vamos continuar tocando. Porque continuamos morando na cidade e a cidade continua se chamando Chapecó.

Ainda em tempo: No terceiro disco da Banda Repolho temos uma outra música (além de muitas outras que talvez não sejam tão explicitas) que usamos como fonte de inspiração a cidade de Chapecó.  A música em questão se Chama “Dr. Pacheco”. Pacheco é um anagrama com nome Chapecó. E que também fala de aspectos culturais, em alguns momentos de forma mais incisiva. E sim ela foi colocada como faixa 3 do disco propositalmente já que a música de Chapecó do primeiro disco também está na faixa 3.

Pode ser ouvido aqui (Repolho Vol 3):

Banda Repolho e Júpiter Maçã (encontros e desencontros)

aquário Estúdio Dreher - Demétrio, Birck, Passarinho e Júpiter ouvindo atentamente as gravações

aquário Estúdio Dreher – Demétrio, Birck, Passarinho e Júpiter ouvindo atentamente as gravações

A parceria com o Júpiter vem de longa data. Começou ainda quando o Júpiter não era Júpiter, mas o Repolho já era Repolho. Para o Jupiter (Flávio Basso) era um hiato entre o fim dos Cascavelletes e inicio da carreira solo. Nos encontramos pela primeira vez em meio a umas festas baile que a Graforréia Xilarmônica realizava. Esse encontro foi no bar Opinião (antes da reforma) em Porto Alegre. O ano foi 1994, a data? Pois bem, difícil de lembrar até porque não tenho registros impressos, fotográficos… o que restou foi a pior das fontes, a memória.  Lógico que o que vocês vão ler a seguir, segue essa linha de resgate de um hd orgânico e desgastado pelo tempo.

Vamos aos detalhes: A Graforréia tinha o costume de organizar o que eles chamavam de “festa baile” onde eles tocavam 5 ou 6 horas de repertorio “graforréico” inserindo algumas referências musicais e sempre, uma vez ou outra,  as vezes aqui ou ali, recebendo convidados. Desta vez participamos, nós com a Banda Repolho, a Ultramen, o Flávio Basso e a Biba Meira. Festão de róque “Made in Poa”,  com direito a tudo o que uma festa dessas tem a oferecer. Insanidades mil. Era um período onde a gente se sentia meio parte da Graforréia e ocupávamos descaradamente o microfone do Carlo Pianta que se divertia com os backins mais nada a ver da história da Graforréia. Era assim sempre que tocávamos junto. Mas esse não é o foco nesse texto. O show do Jupiter aconteceu em meio a isso tudo. Foi uma intervenção musical de amor e ódio em meio a show da Graforréia. O nosso encontro se deu nos camarins onde encontramos/conhecemos pessoalmente um Flávio Basso mais calmo, introspectivo e gentil. Trocamos poucas ideias nessa época, afinal estávamos em meio a shows que aconteciam ininterruptamente e o entra e sai (no bom sentido) nos camarins era intenso. Um revezamento hora no palco, hora na plateia, hora nos camarins.

Depois desse primeiro ensejo, acabamos recebendo-o aqui em Chapecó num show memorável no Goará. A organização ficou por conta do Giuliano Paludo. E o show em questão era ”pré-lançamento” do disco “Sétima Efervescência”. Fui na passagem de som, conversamos, fiz entrevistas, o show foi gravado e posteriormente utilizado pelo Jupiter no filme “Pescando Jupiter segundo Huxley”. Essa história do Jupiter em Chapecó conto outra hora. Vamos ao terceiro encontro.

Marcelo Birck e Júpiter Maçã

Marcelo Birck e Júpiter Maçã

Quando estávamos gravando o primeiro disco do Repolho, pensamos em convidar o Jupiter para participar de uma das músicas. Mas acabou não rolando, nem chegamos entrar em contato. Mas o encontro nos estúdios aconteceu na gravação do segundo disco em 1998,  nos estúdios Dreher. Ele acabou se fazendo presente para participar das faixas, “Adriana” e “Abixornado” onde ele tocou teclado regido pelo Marcelo Birck. A sugestão dele tocar teclado veio do Birck (que tinha composto e regido os arranjos da Música “Eu e Minha ex”  e estava trabalhando no segundo disco “Plastic Soda” com o Jupiter). Ele chegou de mansinho, foi se familiarizando aos poucos. Procuramos deixar ele a vontade e com a orientação do Birck foi encontrando o timbre e o tom do que ele iria fazer. Ao termino de um dos takes ele olhou assustado e disse: “vocês viram né? vocês viram né? (repetindo), minhas mãos foram conduzidas por alguém.” A gente se olhou e ficou com aquela cara de quem não entende  se era de verdade ou uma brincadeira. Eis mais uma grande questão sem resposta.

Ouvindo as gravações - Júpiter Maçã e Marcelo Birck

Ouvindo as gravações – Júpiter Maçã e Marcelo Birck

Nesse meio tempo aconteceram diversos encontros fora dos palcos, uma entrevista aqui, uma produção de show ali, uma mostra de filme etc.

Voltamos a fazer show com o Júpiter novamente em 2004, dia 11/09 aqui em Chapecó na Rep (República CRC) foi um reencontro dos palcos. Nesse show o Anderson Bird Tocou Bateria com o Jupiter.

Roberto Panarotto - Júpiter Maçã e Silvio Biondo

Roberto Panarotto – Júpiter Maçã e Silvio Biondo

Teve um outro show, nessa mesma época com os Red Tomatoes e Jupiter que acabamos encerrando o show do Jupiter todos em uníssono cantando “Lugar do Caralho”. Era a formação/show do disco “Tarde na Fruteira” mesmo que o disco ainda não tivesse saído.

Em 2006 tivemos novamente a presença de Jupiter na gravação do nosso terceiro disco. Ele foi um dia ao estúdio Dreher para uma visita/celebração e que acabou virando algo mais especial. Convidamos ele para participar do disco, deixando-o a vontade para fazer o que queria. A parceria aconteceu nas músicas “Não Fui Eu” em que ele tocou teclado e cantou o trecho:

Estúdio Dreher - Gravação da música "Não Fui Eu" Roberto - Demétrio e Jupiter

Estúdio Dreher – Gravação da música “Não Fui Eu” Roberto – Demétrio e Jupiter

“ontem entraram na casa dela, brincaram com ela , não fui eu,

ontem abriram os armários dela, brincaram com ela , não fui eu,

ontem mexeram nas coisas dela, brincaram com ela , não fui eu…”

Também participou da música “Benga na Alemanha” que ele toca piano e “Ruiva” que ele toca 2ª guitarra.

A música “Em Etapu” dê sua autoria e regência é um deleite só e foi sugerida por ele. Na festividade das gravações nos contou umas histórias sobre uma música que na época ele tinha composto pra dar pro Reginaldo Rossi gravar. A música no caso “Em Etapu” que de certa forma resgatava uma verve mais provocativa e visceral adolescente acabou sendo coordenada por ele mesmo que inverteu todas as lógicas de gravação. Ele tocou violão e faz uma segunda voz.  Aprendemos a música na hora e ele mesmo foi tocando e gravando e fazendo os backings  quase como se fosse uma roda de violão. Por fim quando conseguimos um resultado caótico e desprendido, o Jupiter disse: mas falta gravar a bateria. E foi ele mesmo fazer o registro que acabamos creditando no disco como Flávio Basso. O Thomas Dreher e o Gustavo que produziram isso tudo acabaram dando essa cara pra música.

Será que ela mora em Ririca-si?

Júpiter e Roberto Panarotto

Júpiter e Roberto Panarotto

Nosso próximo encontro acontece no dia 10 de julho de 2015.

OBS: Júpiter sempre esteve em Chapecó realizando inúmeros shows e tem uma história bacana com a cidade de Chapecó e fãs locais, mas isso eu conto num próximo texto.

 

20 anos (1995-2015) da demo Campo e Lavôra – Banda Repolho.

por: Roberto Panarotto

banda repolho

A terceira demo da Banda Repolho, o ano 1995. A primeira vez que entramos em estúdio de verdade, já que as duas demos anteriores foram gravadas em sistema pecuário e improvisado mas sempre muito criativo e inovador (pelo menos para nossa realidade).

O ano de 1995 começou com uma seleção de repertório, escolhidos a dedo para se fazer presentes nesse que seria o nosso primeiro registro com uma “qualidade melhor”. Entendíamos na época, que qualidade maior era gravar em estúdio e ter uma percepção diferente do que eramso acostumados a ter como estética sonora. Fizemos alguns shows e reunimos uma grana pra financiar essa nova empreitada. Com o auxilio do Marcelo Birck reservamos estúdio em Porto Alegre, o Estúdio Alfa. E nos dias 25, 26 e 27 de outubro de 1995, gravamos a demo  da Campo e Lavôra.

Tínhamos 14 musicas selecionadas e ensaiadas. Por mais incrível que isso possa parecer, teve um período da banda que ensaiávamos muito. Eram cerca de 3 ensaios por semana e mais eventuais ensaios de vocal ou de(s)arranjos. Das 14 musicas, 12 estão na demo oficialmente e tinha mais “Funke Tchuca” (que seria posteriormente registrada no primeiro longaplay em 1997, intitulado Repolho Vol 1.) e “visita” (que nunca teve registro oficial).

Acabamos, como tudo o que acontecia na época em relação ao Repolho, fazendo uma votação.  Chegando ao consenso das 12 canções que se fariam presentes na demo, sempre sem agradar todo mundo. Eu, por exemplo não queria a musica “Palhaço Chupa Manga”, e preferia “Funke Tchuca”, mas fui voto vencido. Tudo bem concordei contanto que “Palhaço chupa-manga” fosse a música de abertura da demo. Como achava ruim a música, que começasse assim, chutando o pau da barraca. Essa música não é muito lembrada pelo grande público, mas em especial temos dois fãs importantes que sempre que possível se referem a ela, o Gurcius (dos Legais) e o Marcelo Camelo (do Marcelo Camelo).

Ensaiávamos no porão da casa em que eu morava com o Demétrio. Era um porão rústico e estilo colonial, com chão batido e aberturas em treliças laterais de tijolo. Típico porão para armazenar queijo, vinho ou secar salame. Não importava a condição, a vontade era de tocar e fazer acontecer. Ali naquele espaço e com um equipamento mais precário que o próprio porão em si, gravamos uma pré-demo. A intenção era ter uma base de como as músicas ficariam, para que depois pudéssemos entender o que poderia ser modificada e ou reformulada para gravação oficial. Essa pré-demo acabou parando na mão do Edison e Cia quando tocamos em Jaraguá do Sul no Curupira e está disponível aqui para download, para quem tiver coragem de baixar:

http://demo-tapes-brasil.blogspot.com.br/2012/09/repolho-ensaio-1995-bootleg.html

As gravações em Porto Alegre aconteceram num esquema muito interessante. Foram 3 dias intensos e utilizamos 18 horas de estúdio.

banda repolho campo e lavora 01

Saímos de Chapecó na terça-feira e começamos as gravações na quarta feira dia 25 de outubro. Primeiro dia, arruma tudo, regula tudo, ajeita tudo, respira fundo e vai. Tocamos ao vivo e gravamos 15 músicas. Além das 12 gravamos “Porcona”, “Lasanha” e “o Jegue” com a ideia de ter uma gravação um pouco melhor dessas músicas que haviam sido lançadas na Demo “Repolho e a Horta da Alegria”. A maior dificuldade se deu em função de que o estúdio era muito grande e gravamos sem nos enxergar, elemento que até então era importante na execução das músicas. Mas tudo correu como planejado. Gravamos no primeiro dias as 15 bases oficiais, naquela de, se a bateria acertou, deixa, porque não tinha como regravar um erro de bateria, se algum outro instrumento (baixo, guitarra ou vocal) errava, regrava no dia seguinte. Esse primeiro dias utilizamos 4 horas de estúdio.

O segundo dia foi só pra ouvir o que tinha sido feito, regravar algum instrumento, ou instrumento estra, backing vocal, gritos, palmas, percussões ou eventuais participações especiais. Tudo certo. Entre uma torrada e outra da esposa do Homero ou um leitinho com Nescau, utilizamos mais 4 horas de estúdio para esses overdubs.

O terceiro dia ficou somente para mixagem final e saída dos materiais. Lembrando que todo o processo era analógico e não se tinha a facilidade que se tem hoje das gravações em formato digital. Gravamos numa fita rolo de 16 canais e a saída era em DAT – Digital Áudio Tape. Posterior a isso a fita DAT foi levada a Novo Hamburgo pra fazer um copia em cd. Era o único lugar no Rio Grande do Sul que tinha esse sistema de copias de DAT pra CD. Saímos de Porto Alegre, com o primeiro registro em cd da banda Repolho, para que dele fossem feitas as cópias em fita cassete para serem distribuídas via correio ou lojas de disco.

Pois bem o processo todo foi dificultoso e muito mais complexo do que as fitas demo anteriores. Ainda tínhamos que voltar pra Chapecó, criar a arte da capinha da fita etc etc. E aí que a coisa complicou. Era um transição das tecnologias analógicas para o formato digital. Foi tanto esforço que quando chegou a hora de distribuir, a fita ficou parada. Não foram muitas cópias feitas. Mas as que foram distribuídas tinha no lado A a “Campo e Lavôra” fechando um total de quase 30 minutos de música e no lado B a fita A Horta da Alegria de bônus. Enquanto a segunda demo tínhamos contabilizado cerca de 1000 fitas oficiais, saída das nossas mãos, gravadas, montadas capinha recortadas a mão, da “Campo e Lavora”, acredito que chegamos a fazer umas 300 cópias no máximo.

Baixe a demo “Repolho – Campo e Lavôra” aqui:

http://demo-tapes-brasil.blogspot.com.br/2013/09/repolho-campo-e-lavora-1995.html

mapa das músicas - organização do estúdio

mapa das músicas – organização do estúdio

Ainda sobre a capinha, tivemos o auxilio do Nelson Akira Fukai que fotografou a banda, o Cleandro Tombini que nos desenhou para o encarte e Júlio Mendes (que havia tocado baixo com a gente num interlúdio entre uma saída e volta do girino pra banda). Na capa a presença física e espiritual de Eric Thomas. Uma foto tirada nos altos da Getulio Vargas nos tempos de rebeldia adolescente. Fizemos uma montagem colocando uns repolhos de fundo. A montagem é tão boa que nem se percebe a montagem. O logo foi re-estilizado pelo Girino a partir de uma ideia original do Cleandro Tombini (artista responsável pelos momentos gráficos da banda e pela excelente criação do brasão da banda com um colono e duas enxadas).  O tom colorido carnavalesco kitsch dão o tom visual de um momento explosivo esteticamente e que pode ser conferido ao vivo aqui no show no curupira (citado acima):


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