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UNOCULTURAL – MARUJO COGUMELO

Em meio a concorrência de inúmeros compromissos de fim de ano, festa da firma, final do campeonato de bocha, amigo secreto (ou invisível) e afins, aconteceu o último evento do Unocultural do ano de 2014. O projeto contou com um número menor de atrações no quarto ano, mas sem perder a lógica de estabelecer um contraponto cultural, demonstrando através de eventos voltados ao audiovisual (cinema), música, literatura, poesia e exposições, outras formas de manifestação artística.

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Quem ficou com a responsabilidade de encerrar a programação foi a banda de Xanxerê, Marujo Cogumelo. A banda estava num hiato de apresentações ao vivo e a leitura/identificação é simples. Todos estavam fazendo faculdade e com a idade avançando, a vida do ser humano começa a ser ocupada com outros tipos de prioridades. Muito longe do inicio da banda onde eles se encontravam com 15, 16 anos de idade e tinham todo tempo do mundo pra se dedicar ao rock. Dito isso, fica claro perceber que a vida adulta é assim mesmo e nem sempre sobra tempo pra comer o pudim de sobremesa ou como diria Frank Jorge e Marcelo Birck, através da canção  “Quase 40 Anos” –  “Filho um dia você vai passar por isso, a vida exige tanto compromisso, falta tempo pra amar”. Quase todos eles estão formados, ou fazendo pós-graduação, assumindo a vida adulta e respectivamente, suas carreiras profissionais. Nesse sentido não se tem mais todas as tardes do mundo (que, quando se é adolescente, parecem eternas) pra se dedicar aos ócios criativos. Em função disso tudo, e talvez um detalhe aqui e outro ali, fazia mais de um ano que eles não se apresentavam ao vivo. A banda não acabou, mas foi um período em que estiveram distante. Mesmo sem ensaiar muito, novas composições foram surgindo. É assim com quem é apaixonado por música. É difícil se livrar do vício musical.

Aos poucos retomaram os ensaios e algumas composições surgiram de maneira muito espontânea. É um novo clima, uma nova etapa da história da banda, onde eles acrescentam ao que faziam musicalmente, uma nova bagagem cultural, seja através de novas leituras, viagens, literatura, cinema, novas experiências de vida ou  pontos de vista. E as composições novas refletem esses aspectos traduzindo as metáforas da vida de maneira mais profunda. Tive a oportunidade de ouvir varias dessas novas canções (algumas ainda sem nome) e o que vem pela frente promete um novo capítulo muito mais interessante.

O Vini (do teclado) que esta morando em outra cidade, em função do trabalho, acaba tendo mais dificuldade de participar dessa nova etapa. Em conversa antes do show, ele reforça o lado da amizade cultivada por eles. Ele disse que é legal voltar e perceber as mudanças de cada um, mas, mais do que isso perceber que existe uma química bacana entre eles e que o tesão de tocar, compor e se divertir continua o mesmo. Isso, diria eu, é fundamental para que a coisa toda continue acontecendo, independente das distancias ou novas atribuições do cotidiano.

Restabelecer esse contato com o público era uma questão de tempo, e se deu em função do lançamento do clip de “Sangue Blue” (música que está no compacto em vinil lançado em 2011). O clip foi filmado ano passado e estava pronto desde o inicio do ano, esperando o momento certo de ser lançado. A Banda, juntamente com a Ana Orlandin (heybanana), que materializou graficamente essência do clip, organizaram um esquema de divulgação e através do Instagram oficial da banda (http://instagram.com/marujocogumelo) e das redes sociais, anunciaram o “retorno”. O clip foi lançado no dia 10.10 às 10 horas da manhã. Em um dia de youtube, já tinha quase cinco mil views, um número excelente para uma banda alternativa. O show acabou sendo conseqüência disso tudo.

Veja o clip aqui: 

Confira aqui o álbum de fotografias do clip:

http://issuu.com/marujocogumelo/docs/sangue_blue_album/0

Como isso eles acharam que seria um bom momento para apresentar algumas musicas novas para o seu público e aceitaram o convite para tocar no Unocultural. Ana Orlandin foi convidada para pensar o cenário do show. Ela que foi responsável pela parte gráfica do clip, e capturou bem a essência da banda através de uma leitura simples e cotidiana. A imagem dos três guarda-chuvas em três momentos, propondo uma narrativa visual. A metáfora do guarda chuva que volta a se abrir. A dificuldade de segurar o guarda chuva aberto no vento, para que ele não se despedace. Ou então, mesmo despedaçado propondo uma reflexão interessante. Uma imagem, ao meu ver,  emblemática,  que acabou refletindo no clima e visual do show do Unocultural. A decoração do palco seguiu a linha de raciocínio e Ana Orlandin criou um móbile de guarda-chuvas suspensos por fio de nylon que faziam os guarda chuvas flutuar em torno da banda, como se estivessem suspensos pelo vento. Com uma paleta de cores/luzes mais frias e que transitavam entre o azul e o verde definiu o clima do show.

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As pessoas entraram no teatro do SESC e sentiram esse impacto com tonalidades frias, gelo seco e um ar condicionado a resfriar o local introduzindo o público ao clima desejado. O som de chuva tomava conta do ambiente e ficou por cerca de 5 minutos até que as pessoas se acomodassem. Aos poucos a banda entrou no palco e abriu o show com a música Sangue Blue. Foi um bloco de três canções sem intervalo. Aos poucos o calor foi tomando conta e com eles a modificação de cores deixava o cenário um pouco mais quente. Nesse contraste eles foram tocando algumas músicas do primeiro disco, do compacto e intercalando com as canções novas. Foram três as canções novas apresentadas ao público. São elas, “Temporal”, que eles já vinham apresentando ao vivo nos últimos shows antes do recesso, “If I’m Blue”, uma bela balada/canção ao melhor estilo rock inglês com um pegada mais introspectiva e “Amaralina” talvez a música mais próxima do som que eles vinham fazendo, talvez um elo que amarra tudo e  demonstra uma maturidade musical e poética dessa nova etapa. Outra novidade, foi o Kássio tocando guitarra em algumas músicas. Eventualmente ele fazia isso em um ou outro show, mas esse show, talvez marque essa nova etapa de novas composições que precisam de um som um pouco mais encorpado ao vivo.

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O show que começou com uma chuvinha leve, terminou com a música “Temporal”, uma canção nova e com características mais dançantes e letra um pouco mais crítica/preocupada. Saíram do palco, agradecendo, mas o público queria mais. Voltaram, e tocaram um cover do Beatles. Uma música que pode parecer ocasional (por não estar nos planos da apresentação que não previa um bis), mas que de certa forma ajuda a criar uma comparação com os próximos passos da Marujo Cogumelo. Quem pensava que depois desse show eles iriam continuar tocando, estão enganados. O recesso continua ate a gravação do segundo disco. A exemplo do que fizeram os Beatles que abandonaram os palcos em detrimento de focar nas gravações de estúdio. Os Marujos vão seguir os passos dos mestres, mas não em função da precariedade das apresentações ao vivo, até porque o SESC através da sua estrutura e do técnico de som Louis (um baita profissional) vem mostrando que é possível fazer apresentações de nível, com som bom, luzes, conceito etc. No caso dos Marujos o que mais pesa é o tempo mesmo e eles querem focar no disco novo e vão aproveitar o primeiro semestre do ano que vem pra dedicar o pouco tempo livre  para compor e ensaiar as musicas pensando no disco novo. A gravação deve acontecer no meio do ano. Mesmo período que foi gravado os materiais anteriores.

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Quem não foi no show do SESC, vai ter que esperar mais um bom tempo para ver os Marujos de volta aos palcos. A promessa do disco novo é pro final do ano que vem. Esperamos ansioso para ver mais essa etapa da banda acontecendo. Sobre o Unocultural, ano que vem tem mais, aguarde.

Marujo Cogumelo no facebook:

https://www.facebook.com/curtamarujocogumelo

Flickr Heybanana: flickr.com/heybanana

A morte pede carona.

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Uma pequena reflexão (que não importa muito, mas que resolvi escrever porque me deu vontade) sobre o que é um filme de verdade e o que é a indústria do cinema.

A morte do ator Paul Walker levantou uma série de questionamentos, deixando evidente mais uma vez as ironias da vida. O astro das corridas de carro nos filmes, morre de acidente de carro na vida real. É irônico. Assim como muitas vezes a morte o é. O que era imbatível no cinema se tornou falível na vida real. Sempre a realidade para estragar tudo. A realidade é sempre mais sarcástica. E o pior é que tenho a sensação de que quando alguém morre, nesse universo midiático macarrão instantâneo, tem mais gente rindo do que chorando. As pessoas vem pra ti e perguntam rindo (ou ironizando): viu quem morreu? Tá sabendo? E tome post no facebook idiotizando a situação, glorificando ou fazendo piadinhas (afinal com um facebook nas mãos todo mundo vira artista, fotógrafo, poeta, stand up comedy… e por aí vai).

Li recentemente alguns desdobramentos da indústria (do “cinema”) em relação a morte do ator, que envolvem a filmagem do sétimo filme da serie (mais) Velozes e (cada vez mais) Furiosos. O filme estava na metade das filmagens. O ator, em questão era o astro da franquia. Nome interessante pra chamar uma série de filmes que são produzidos em série de maneira quase industrial. Entre seguro, possibilidades de refilmagens, soluções digitais, término da franquia, reinicio de uma nova… também se fala em homenagem ao astro morto.

É engraçado isso. Estou escrevendo sobre algo que eu não vi. Meio idiota fazer isso. Mas juro que eu tentei ver o primeiro filme (na época que foi lançado) para tentar entender. E o que me lembro, era de ver um filme onde os carros são o ponto principal, velocidade, corridas, gente bonita e… e… acho que era só isso.

Recentemente na estréia de “Velozes e Furiosos 6”, estava na fila para comprar ingressos pro cinema (no caso pra ver um outro filme) quando vi um comentário de dois jovens em frente ao cartaz do filme e que me pareceu esclarecer tudo.

 – Vamo vê os Velozes e Furiosos!

– Creim, mas é legendado.

– E o que isso importa, a gente só vai ver os carro mesmo.

A conversa definiu tudo. De forma simples, ocasional e ingênua percebi na fala dos dois jovens, a outra ponta da coisa toda. E imediatamente tudo começou a fazer mais sentido pra mim. O “filme”/produto, que é uma franquia, fabricado pela indústria e patrocinado por uma outra indústria, é focado num tipo de público que esta mais interessado em ver os carros (a velocidade, tetinhas ou explosões). O que acontece, como acontece e porque, não importa muito. É a mesma sensação que se tem na gôndola do mercado com uma infinidade de marcas de leite em suas caixas coloridas. Você simplesmente compra o que acha mais bonito. Porque não tem como escolher leite pela qualidade (ou tem?). É a tal indústria pensando em como atingir a nova geração. E a nova geração respondendo a isso de maneira impar.

É lógico, ao meu entender, que eles não vão ter maiores problemas em substituir o ator. Não falo do ser humano e sim do personagem por detrás da história toda. Ele, o ator, não faz diferença, como não faz diferença a vaca que produziu o leite que você compra no mercado. A grande atração sempre foram os carros. Depois disso também descobri porque eu nunca vi os filmes. Um porque gosto muito de cinema e dois porque acho que carros são meios de transporte.

Em se tratando de indústria, mesmo eles sendo cada vez mais óbvios em diversos momentos, sempre fico em dúvida sobre o que é melhor para minha saúde.  Nunca sei se tenho que comprar o leite integral ou a bolacha desnatada. Em se tratando de cinema de verdade… esqueça o que eu ia dizer, ninguém vai ler o texto ate o final mesmo.


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